Por este país e essa Europa fora, muito se fala de coesão. Ministros, comissários, entidades que nunca mais acabam com um suposto objetivo de minimizar os privilégios de uns territórios quando comparados com outros. Este problema está, muito provavelmente, na base do problema da desertificação do interior a nível nacional. Ninguém quer viver numa zona onde não há hospitais, transportes ou serviços básicos para a qualidade de vida numa sociedade desenvolvida.
Nos panfletos que vemos relativamente à Maia, esta é “vendida” como um município onde o rural e o urbano se fundem em perfeita harmonia, mas será esta uma realidade justa? Vamos a factos.
A Maia é o sexto maior concelho do grande porto no que toca a área geográfica e população, sendo o quinto com maior densidade populacional. Se formos ver a nível nacional, o município está no top 20 dos concelhos de maior população numa lista de mais de 300 concelhos. Tudo indica que este seria um concelho perfeitamente desenvolvido, em que a sua população teria à sua disposição de forma fácil qualquer serviço do dia a dia, certo? Não é bem assim.
Após a reorganização administrativa de 2013, o concelho passou a ter 10 freguesias, mas em boa verdade, a Maia pode ser dividida em três categorias:
- Urbanas: Cidade da Maia, Águas Santas e Pedrouços
- Em Urbanização: Castêlo da Maia, Moreira da Maia, Milheirós, Nogueira da Maia*,
e Vila Nova da Telha - Rurais: São Pedro Fins, Folgosa, Silva Escura*
* — Apesar de Nogueira e Silva Escura formarem atualmente uma união de freguesias, têm realidades bastante diferentes, e daí a separação.
Quando falamos das zonas urbanas do município, falamos das freguesias onde há um acesso facilitado a uma panóplia de serviços, transportes e comércio. A Cidade da Maia, freguesia central, tem de tudo um pouco: metro, STCP, comércio local e de grandes superfícies. Qualquer serviço necessário a uma boa qualidade de vida está a uma distância que seria exequível de se fazer até a pé. Na freguesia de Águas Santas, a realidade é semelhante, ainda que não ao mesmo nível da principal freguesia do concelho. Existe uma rede de transportes considerável, comércio, e serviços que faz com que a freguesia seja bastante apetecível para potenciais moradores.
Falando das freguesias que estão em processo de urbanização, falamos das zonas que mais recentemente viram uma maior circulação de pessoas no seu território. Tal deve-se a uma variedade de fatores, como acessibilidade às principais artérias da Maia e de acesso facilitado ao concelho do Porto, proximidade do aeroporto Francisco Sá Carneiro, devido às escolas básicas/secundárias, entre outros. Nestes casos, apesar de já haver uma rede de serviços e comércio, começa-se a sentir a falta do transporte público de qualidade, já sendo difícil viver caso não se possua viatura própria.
Por último, temos as freguesias mais rurais do concelho. Falamos principalmente das freguesias de São Pedro Fins, Folgosa, e da zona de Silva Escura, agregada à freguesia de Nogueira da Maia na última reorganização administrativa em 2013. Nesta zona do município, é simplesmente impossível imaginar uma vida sem possuir viatura própria. Em São Pedro Fins o comércio reduz-se quase em exclusivo a alguns serviços de restauração. Não existe, sequer, um minimercado. Qualquer coisa que um indivíduo precise de fazer, precisa de sair da freguesia, e mesmo para o fazer, convém que tenha viatura própria, caso contrário, mesmo isso será um desafio.
Mas qual será a razão para este desfasamento no desenvolvimento de um território até relativamente pequeno?
Olhemos à densidade populacional de cada uma das freguesias.
Como percebemos no mapa, existe uma preferência clara de movimentação populacional para as áreas que oferecem uma melhor qualidade de vida, o que não é de estranhar. Afinal, todos queremos estar no sítio que mais tem para nos oferecer. No entanto, o contrário também é verdade: qualquer negócio e serviço faz mais sentido ser colocado numa zona onde exista o maior número de pessoas, para que esse investimento faça sentido.
Em suma: as pessoas vão para os sítios onde há uma maior rede de serviços, e os serviços e investimentos tendem a ser feitos em zonas onde há mais pessoas. É a velha história do ovo e da galinha. E de alguma forma esta corrente precisa ser quebrada, caso contrário, surgem zonas altamente sobrelotadas, com a habitação a ficar com preços incomportáveis e até inexistentes, e outras zonas desertas de pessoas. Um pouco do que já vivemos a nível nacional.
Esta é a importância da coesão territorial. E se num concelho como a Maia, com todas as condições para o garantir, temos estas diferenças sem que se consiga mitigar, que moral temos para exigir soluções a nível nacional?
Soluções como o Mobus (questiono-me inclusivamente se esta opção é conhecida pela população geral) são de louvar, no entanto apenas mitigam parte do problema, dada a sua necessidade de marcação com um dia de antecedência, horário de funcionamento reduzido e ao facto de apenas garantir transporte dentro de algumas zonas da Maia. Nada para fora do concelho. Uma pessoa que precise de transporte para ir trabalhar diariamente, o Mobus não serve como solução.
A solução tem de passar pela própria Câmara Municipal valorizar o seu território de forma homogénea, ao invés de estar a colocar todas as fichas no mesmo pote que é a sua zona central, tipicamente na zona envolvente ao próprio edifício sede da câmara. É muito fácil vender a Maia com fotografias bonitas do seu centro, esquecendo a forma como as pessoas vivem quando nos deslocamos para as extremidades do concelho.
Emanuel Marques
27 anos, Engenheiro de Software, Membro da Iniciativa Liberal Maia
2 comentários
Habito no concelho da Maia á duas décadas na freguesia onde habito Nogueira não me queixo em termos de transporte público,que deveria ser mais cómodo (autocarros a precisar da reforma). A nível de apois sociais como parques lazer,parques infantis,porque se não tivermos transporte próprio não podemos levar crianças ou pessoas idosas ou com mobilidade reduzida em segurança a esses locais de lazer,é verdade que no centro do município estamos muito á frente, antigamente dizia-se Portugal é Lisboa e o resto são paisagens.
Moro no Castelo da Maia, um quarto pago 270€ a ação social passou para a câmara, desde Março não me dão um €
A minha pensão é de 360€ uma tristeza..