Beatriz Maia tem 26 anos e trabalha na portuguesa Indie Campers, em Frankfurt. É licenciada em Marketing pelo ISCAP e, depois de passar pela área da hotelaria em Portugal, partiu para uma experiência além fronteiras. O Notícias Maia foi conhecer esta “Maiata pelo Mundo” que completa agora 1 ano do início desta aventura na Alemanha como gestora de operações local.
NM: Como é que começa esta aventura fora de Portugal?
BM: De um dia para o outro. Eu fui contratada na véspera de Natal! Já tinha feito todas as entrevistas e ligaram-me no dia 24. Fiquei com um misto de sensações, sabes? Queria ir mas não tinha bem noção de que estaria na Alemanha duas semanas depois. Fiz um estágio aqui no Porto para perceber como as coisas funcionavam e depois fui. A Indie Campers funciona como uma hostel sob rodas, inicialmente também tratava dos check-in e check-out, limpeza das carrinhas e garantia que estava tudo a funcionar.
NM: Como é que se decide trabalhar fora do país? Já tinhas feito Erasmus, não foi?
BM: Sim, eu estive na Polónia 6 meses. Sempre foi uma coisa que eu quis fazer. Estive dois anos a trabalhar num hostel, decidi que tinha de mudar de ares e fui para o Selina tratar abertura do espaço. Depois os meus objetivos mudaram e quis partir para um desafio diferente. Um dia acordei, vi que a Indie Campers estava a recrutar e candidatei-me.
NM: Quando chegaste à Alemanha, qual foi a tua primeira impressão do país?
BM: Eu já tinha estado na Alemanha antes, em Colónia. Tenho muitos amigos alemães que conheci em viagens e, por conhecer lá muitas pessoas, sempre fui contra aquele estereótipo de que os alemães são frios. Quando cheguei lá senti que era tudo novo mas gostei muito. Sempre tive um fascínio pela Alemanha e, passado algum tempo, com a convivência, começamos a compreender mesmo como é o país.
NM: Quais são as maiores dificuldades que sentes na Alemanha?
BM: A maior dificuldade que eu sinto é a barreira linguística. Quando tu falas com eles em alemão, eles são incríveis. Mas o problema é ultrapassar essa barreira. Neste momento o que mais ouvimos é “se estás na Alemanha, tens que falar alemão”. E nós, portugueses, não somos educados desta forma. Nós acolhemos qualquer pessoa e tentamos sempre ajudar.
NM: E essa barreira de comunicação chega a ser discriminação?
BM: Em alguns momentos, chega realmente a ser discriminação. Posso dizer-te que, no trabalho, quando é preciso algum contacto a nível legal com autoridades, por exemplo, eles chegam a perguntar-nos várias vezes se estamos legais no país. Eles não acreditam que estás legal se não souberes falar alemão.
NM: Achas que Portugal podia aprender alguma coisa com a Alemanha?
BM: Acho que poderia ser uma troca entre ambos. Por exemplo, sei que agora entrou em vigor uma lei que vai multar as pessoas que atirarem beatas para o chão, mas o país não está preparado nem oferece estratégias para ser possível. Na Alemanha, por exemplo, todos os caixotes do lixo têm cinzeiros.
NM: Já conseguiste aprender a falar alemão?
BM: Sei o básico para comunicar! (risos) Há uma curiosidade muito engraçada nesse sentido. Sabes que, na Alemanha, mais depressa falas em espanhol com eles do que em inglês? Quando queres falar com alguém que não fala inglês, perguntas se fala espanhol e posso dizer-te que mais de metade diz que sim. Eles aprendem o espanhol na escola. Mas também depende da zona, nas cidades menos internacionais é que se sente mais. Berlim, por exemplo, já quase não é Alemanha.
NM: Do que é que sentes mais saudade de Portugal?
BM: Da comida! (risos). E o sol também. Confesso que aquelas temporadas de céu cinzento me fazem alguma confusão e até sinto que fico mais em baixo. Mas nem é dos piores países. O ano passado tivemos um verão incrível, por exemplo. Mas nós vamos dando a volta e temos ali perto alguns países que têm praias e, de vez em quando, vamos até lá surfar e apanhar um sol. Perto de casa também temos um lago onde até podemos nadar. Mas o que tenho mais saudades é mesmo a comida e de poder pegar no meu carro e ir para a praia com o meu cão.
NM: Para terminar, em poucas palavras, como avalias a tua experiência até agora?
BM: Incrível. Acho que nem toda a gente tem a oportunidade de largar tudo e ir à busca de uma aventura. Se tiveres força e determinação, o que recebes de volta é muito gratificante. A nível pessoal, tens uma recompensa gigantesca quando vives noutro país.