1.- Um dia destes apareceu-me na caixa do correio a “Revista Municipal – terra maia”. Muito amarrotada, por sinal, a fazer ver aos seus editores a necessidade de uma distribuição que não a “machuque”. É sempre com curiosidade que recebo, folheio e leio quaisquer documentos da Câmara da Maia, nomeadamente quando se pretende ser portador de uma mensagem para o comum das cidadãs e dos cidadãos, como eu sou. E quer falar e refletir sobre “Ordenamento Territorial”, tema importante quando enquadrado nas várias facetas duma Ecologia Espiritual, subentendendo o “espiritual” naquilo que bem quisermos. Na sua nota de abertura refere-se que a revista é “escrita por especialistas e responsáveis políticos, numa linguagem acessível, mas rigorosa, em que o respeito pela integralidade dos factos e uma constante visão cientifica, serão a sua “pedra de toque”, a sua “marca distintiva””, e então “mete” no “ordenamento territorial”, toda a vida do município e das mulheres e homens que o constituem, o que não seixa de ser surreal.
2.- Para que esta linguagem seja compreendida o seu consultor escreve: “Não obliterando a latitude subjetiva, a verdade é que na voragem se despende muita energia a construir pensamento e produtos descartáveis cuja utilidade, de tão efémera, nunca resgata o esforço de fábrica. A “cultura BIC”, epidemicamente difundida e adoptada em massa, tem implícita uma perversidade que, ao usufruirmos da sua comodidade…”. E poderia continuar, mas basta: este discurso nada possui de apelativo e de compressão numa linguagem “acessível” como se diz na “Nota Introdutória”. Não chamo iliterato a ninguém que leu a revista, mas convenhamos que além dos erros ortográficos – aliás, presentes em toda a revista, por um português arcaico, e que induz os mais novos ao erro -, o texto pode satisfazer quem o escreveu, mas não esclarece em nada, aquilo que, porventura, queira esclarecer, e contradiz a citada nota de abertura que seria uma “linguagem” compreendida pelo comum dos cidadãos.
3.- A determinada altura da revista é escrito que o ordenamento territorial é “a tradução espacial das políticas económica, cultural e ecológica da sociedade…” e mais adiante uma equipa de articulistas refere que a agenda da participação na discussão envolveu “principais atores locais (sociais, ambientais e económicos) para o PDM”, para além de uma série de mapas que ninguém consegue ler e, portanto, perceber.
4.- O que é dito na nota de abertura de uma “constante visão científica” é assim contradito. Se o ordenamento territorial “é a tradução espacial” de políticas económicas, culturais e ecológicas da sociedade, então onde estão as “sociais”? E se se define estas três vertentes sendo a ecológica uma delas, isso significa que “ecologia” é igual a “ambiente”, o que não é verdade do ponto de vista científico. E como se vê a enunciação económica, cultural e ecológica, mais abaixo tem tradução como “sociais, ambientais e económicos”. Ou seja, os vários autores contradizem-se e não especificam as vertentes de forma “cientifica” do seu entendimento sobre o “ordenamento do território”. E nem percebem o que é a “Sustentabilidade”.
5.- Não duvidando da boa-fé dos autores da revista, desculpem, mas desinformam, ao contrário do pretendido. Mas para não ser tão negativo os meus parabéns ao arqueólogo André Ribeiro pelo seu escrito.
Joaquim Armindo
Professor Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental