O confinamento a que temos sido obrigados por causa da pandemia Covid-19 faz lembrar o uso do espartilho. Se a peça de vestuário tinha como objetivo reduzir a cintura da mulher, mantendo o tronco ereto enquanto fazia sobressair as formas do corpo feminino, o confinamento reduz a propagação do vírus, mantém a curva achatada e, dizem, faz sobressair a natureza do planeta.
Outra coisa em comum é que o excesso de espartilhamento assim como o de confinamento, podem matar. Talvez seja por isso que as opiniões se dividem quanto ao uso de ambos. Se há aqueles que consideram o espartilho um símbolo de feminilidade, também os há que o acusam de ser um opressor. É tal como no confinamento. Se os há a opinar que é uma violação de liberdades e em excesso mata, também os há a dizer que o desconfinamento vai matar muito mais. Mas não fica por aqui.
O espartilho foi um libertador e um opressor. Os que condenam o uso da peça de vestuário parecem esquecer que nasceu no renascimento europeu e que, curiosamente, veio trazer os decotes e quebrar o tabu de mostrar as formas femininas, até então, catolicamente escondidas. É tal como ficar em casa. Os que condenam o confinamento parecem ignorar que em infetocontagiosas, para não se ser infetado, é necessário não haver contacto social.
Já na diferença é que não há dúvida nenhuma. O espartilhamento covid faz aumentar a cintura ao contrário do espartilho.
Agora que terminou o estado de emergência, vamos todos, quais ativistas, sair do espartilhamento e comemorar a liberdade. Atenção para não confundir com as comemorações do 25 de abril na Assembleia da República e não julgar que sair de casa é uma vitória do feminismo radical. É antes, se quisermos, a revolução das máscaras. Um símbolo contra o coronavírus.
Nesta revolução das máscaras de 2020 não temos nenhuma Celeste Caeiro a distribuir cravos como em 1974, mas temos as Ligas da Comunidade Chinesa em Portugal a distribuir equipamento de proteção e a Marta Temido, a aconselhar o uso da nova tendência em dia sim, ou a não recomendar em dia não. Um pouco como o Ferro Rodrigues, ora mete a máscara ora tira a máscara, dependendo da ocasião. Não falta material ao Quim Barreiros para um novo hit.
A CGTP é que decidiu unir-se contra a pandemia e contra o espartilho. Para denunciar as violações aos trabalhadores, violou o confinamento e acabou a protagonizar aquela cena com os proles na Alameda que mais parecia uma adaptação do 1984. No fundo passava o hino da intersindical, aquele que acalma a camarada Marta Temido. Mas todos com máscara e luvas. Tudo muito bonito.
Aldo Maia, Diretor