Caros amigos leitores
Gostaria de chamar a atenção para os trechos do Sermão do Santíssimo Sacramento, pregado por Padre António Vieira (1608-1697), em Santa Engrácia, no ano de 1662. Padre António Vieira falava sobre a união.
“Toda a vida (ainda das coisas que não tem vida) não é mais do que uma união. Uma união de pedras é um edifício, uma união de tábuas é um navio, uma união de Homens é um exército. E sem essa união tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína, o navio sem união é naufrágio, o exército sem união é despojo. Até o Homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é Homem, sem união é cadáver. (…) Por mais alta que esteja a cabeça, se não está unida é pés. Por mais ilustre que seja o ouro, se não está unido é barro. Nobreza desunida não pode ser, pois em sendo desunida, deixa de ser nobreza. É vileza. (…) Para derrubar um reino e muitos reinos onde há desunião, não são necessárias baterias, não são necessários canhões, não são necessários trabucos, não são necessárias balas, nem pólvora. Basta uma pedra: o lápis.
Para derrubar um reino e muitos reinos onde falta a união não são necessários exércitos, não são necessárias campanhas, não são necessárias batalhas, não são necessários cavalos, não são necessários homens, nem um homem, nem um braço, nem uma mão. Nós temos muitas boas mãos e o sabem muito bem os nossos competidores. Mas se não tivermos união, nem eles haverão mister mãos para nós, nem as nós nos hão-de valer as nossas. (…)”
É curioso como o discurso de Padre António Vieira no século XVII se aplica ainda aos nossos dias… A verdade, caros leitores, é que sem união nada sobrevive e não existe sucesso.
Agora que se aproxima o fim da permanência da Troika no nosso País, pelo menos, tudo indica que vamos abandonar as contingências Troikianas, talvez pudéssemos parar um pouco para pensar e reiniciar a nossa vivência profissional. Se o nosso espírito latino fosse colocado de lado e olhássemos para os povos nórdicos, verificaríamos que as empresas, entidades e organizações, para crescerem de forma sustentada, investem na gestão conjunta e mostram a importância da união no competitivo mundo dos negócios.
Penso que será do consenso geral a necessidade de manter o nosso tecido empresarial estável. Mas para mantermos as empresas a laborar, só a união poderá ajudar a preservar postos de trabalho. É da responsabilidade da Gestão de Topo das empresas/organizações promover a união entre os trabalhadores em prol de um objectivo comum, fazendo com que se sintam parte de um projecto e de uma equipa, pois assim só conseguiremos ter algo que está, praticamente, em vias de extinção nas nossas empresas e organizações – pessoas motivadas. A união permite o trabalho em equipa, sendo que o trabalho em equipa é uma “pedra basilar” para o reconhecimento de talentos, aptidões e capacidades dos colaboradores.
Se a união for a base de uma montanha, o cume será, sem dúvida, o sentido de responsabilidade.
Façamos uma reflexão sobre o valor da união para a nossa vida profissional.
Será utópico? Talvez não…
Francisco Fernando Martins da Silva
(Engenheiro e Professor do Ensino Superior)