Inglaterra assistiu com espanto à primeira greve geral de Médicos. Insatisfeito com a destruição do SNS Inglês, mas sobretudo com a impotência de tratar bem os doentes, com a qualidade que os habituaram, os médicos resolveram fazer greve. Apesar de até agora não constituir qualquer surpresa, a surpresa surge quando vemos enfermagem, técnicos superiores de saúde e técnicos de diagnóstico e terapêutica ao lado da causa dos médicos. Num prestigiado jornal londrino eram visíveis PINs destes profissionais a suportarem os motivos médicos.
Mais impressionante foi o apoio da opinião pública e da população Inglesa em geral… Apoio esse que de tão clarificador condicionou um enorme recuo governamental.
Entre as causas para a greve estavam para além dos cortes salariais, as dificuldades em tratar doentes com os métodos até agora instituídos, e o excesso da carga laboral. Foram publicadas história incríveis de dificuldades financeira, falta de tempo para a família… Enfim tão similares à que vivemos por cá… que assustou!
Por cá continuam-se a formar médicos em ritmo superior àqueles que se reformam. As últimas referências neste assunto apontavam que se formam duas vezes mais especialistas do que aqueles que se reformam. Adicionalmente, o SNS português não conseguirá absorver todos os médicos que se formam. Aliás, já não consegue, mas por enquanto os relatórios apontam para especialidades carenciadas… como a Medicina Geral e Familiar ou a Saúde Pública.
No meio desta confusão digna de país rico, pois formar médicos tem custos muito, mas mesmo muito elevados, continua-se a discutir numerus clausus de entrada em Medicina e a aceitarem-se 20 alunos de Medicina por doente para aprender/ensinar nas faculdades.
Não posso deixar de lembrar o leitor que existem outros cursos de média bem elevada, cujos numerus clausus não se discutem… lembro-me por exemplo de Engenharia Biomédica, Astronomia ou Gestão Industrial cujas notas de entrada se situaram acima dos 18 Valores, mas que não se discutem numerus clausus. Porque será? Haverá algum prazer oculto em favorecer o desemprego médico? Haverão fundos desconhecidos para continuar a aplicar na formação de jovens estudantes para emigrar.
Reconheço que se trata de um problema complexo… entre a popularidade do voto e a reforma necessária, a opção deveria ser imediata e clara… mas não é!
Entre a sanidade financeira, o rigor orçamental de um país e o favorecimento de outros países com mão de obra qualificada ao preço da chuva, a opção deveria ser imediata e clara… mas não é!
Julgo que todos temos um bocadinho de culpa… ao contrário de outros e como disse um dia um banqueiro da nossa praça… “Portugal aguenta (…)?… ai aguenta, aguenta!”
Enquanto não tomarmos posições, não lutarmos e vivermos verdadeiramente a democracia…. La iremos aguentando… Será que tem de ser assim?
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.