Há um novo projeto na Maia que promete ensinar aos mais velhos a arte de tocar um instrumento musical mas de uma forma diferente do comum. O NOTÍCIAS MAIA foi conhecê-lo.
“Ensinar música sem recorrer à música” é a premissa do novo projeto da Associação Recreativa e Cultural de Nogueira e Silva Escura (ARCNSE), intitulado “Ao Som das Gerações”, onde o grande objetivo é promover a atividade cultural dos idosos maiatos.
Mas o que é isto de ensinar sem recorrer à música? Trata-se da metodologia de Class Band, que consiste num método muito intuitivo onde os alunos aprendem a tocar e a ler pautas musicais ao mesmo tempo. Pode parecer confuso, mas a realidade é que logo na primeira aula o aluno pega no instrumento musical e começa a tocar!
“É uma forma muito simples de começar a aprender a tocar um instrumento”, explica Arnaldo Costa, professor de música na escola New Concept Music (NCM) e agora também um dos docentes ao leme deste projeto. Conta-nos que a NCM foi “praticamente pioneira nesta metodologia cá em Portugal” e que a escola trabalha agora “em parceria com a associação para implementar este projeto”.
Neste projeto, promovido pela ARCNSE, com apoio do Portugal Inovação Social e onde a Junta de Freguesia de Nogueira e Silva Escura assumiu o papel de Investidor Social, os alunos aprendem a ler pautas musicais ao mesmo tempo em que aprendem a tocar as notas musicais em si.
“É um método onde tudo é feito em conjunto e por isso é que se torna bastante divertido”, explica o professor completando que se constrói “um grande um espírito de equipa” visto que “as pessoas veem os defeitos uns dos outros e se vão corrigindo”.
Arnaldo Costa garante que em “em quatro semanas já existe evolução” e que “a aprendizagem é constante nos ensaios”.
Promover o envelhecimento de uma forma ativa e saudável
Agostinho Silva, presidente da Associação Recreativa e Cultural de Nogueira e Silva Escura, explica ao NOTÍCIAS MAIA que faz todo o sentido o projeto partir desta freguesia visto que “Nogueira é tradicionalmente uma terra de músicos, muitos maestros e bons executantes musicais”.
Explica que o grande objetivo “é a promoção do envelhecimento de uma forma ativa e saudável” mas também o “convívio inter-geracional que acaba por se criar quando os netos ou filhos vêm ver os espetáculos dos pais e avós”. Isto porque, de três em três meses, haverá uma sessão de apresentação para ver o progresso”. O projeto terá a duração de 3 anos.
Agostinho Silva explica-nos que durante os três anos de durabilidade deste projeto, será possível envolver 120 idosos. Para já, um mês passado do arranque da atividade, são 12 os alunos maiatos que estão a aprender a tocar um instrumento musical. E qualquer um pode inscrever-se, sendo que a prioridade é dada aos residentes no concelho da Maia.
O presidente conta-nos que lidar com a pandemia tem sido “muito desafiante” e que, “mesmo garantindo distanciamento e todas as condições de higiene”, muitas pessoas “têm medo”.
O projeto tem um orçamento total de 148 mil euros. Um valor que é suportado em 30% pelo Investidor Social, isto é, pela Junta de Freguesia de Nogueira e Silva Escura. Sobre esta parceria, Agostinho Silva garante que a “disponibilidade deles foi imediata” e que, inclusive, as sessões estão a decorrer no edifício da Junta de Freguesia visto que “o pavilhão ainda entrará em obras”.
Este pavilhão será o primeiro passo para uma Universidade Sénior, o objetivo seguinte que a Associação quer levar para a frente mas que não será para já.
“Nunca é tarde para se começar algo novo”
O NOTÍCIAS MAIA passou por um dos ensaios de grupo e testemunhou o ambiente descontraído e divertido que ali se vive.
Maria Fernanda, de 68 anos e reformada, conta-nos que decidiu juntar-se a estas aulas “para aprender mais uma coisa e aliviar um bocado a cabeça”. A aluna, que está a aprender a tocar a trompa francesa, explica que esta é uma forma de conviver e que, apesar da pandemia, “aqui estamos todos seguros”.
Rosa Santos ficou com o trombone e, aos 57 anos, conta que aprender um instrumento “é um sonho antigo” e que gosta muito “deste método de ensino”. Rosa já havia aprendido música quando era mais jovem e, quando comparando os dois métodos, a aprendiz garante que este “é mais didático e divertido”.
Também Fernando Ferreira, de 61 anos e “nativo de Nogueira”, partilha que “nunca é tarde para se começar algo novo” e que está muito entusiasmado em “abraçar este projeto”.
Sobre a sua evolução, neste caso a aprender a tocar uma tuba, Fernando explica que “um mês é muito pouco tempo para quem está a iniciar a leitura de pautas e de aprender técnicas de sopro” mas que “está a ser muito proveitoso”.
“Isto demonstra que quando temos muita vontade, nós somos capazes de fazer música. Vamos conseguir, vai levar um pouco mais de tempo, mas vamos conseguir”, concluiu o aprendiz.