Cavaco Silva foi convidado a intervir na cerimónia que assinalava os 30 anos do PER – Programa Especial de Realojamento – e deixou críticas à atual política de habitação do Governo. Autarcas do Partido Socialista, entre os quais Luísa Salgueiro, que é também presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, e até a Ministra da Habitação, Marina gonçalves, abandonaram a sala durante o discurso do antigo Presidente da República.
No passado dia 13 de março, foi uma realizada uma conferência para assinalar os 30 anos do Programa Especial de Realojamento. A iniciativa realizou-se no Auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa.
O discurso de encerramento coube a Aníbal Cavaco Silva, antigo Primeiro Ministro e Presidente da República, que criticou duramente a política de habitação do atual governo de António Costa. O antigo governante afirmou que a crise habitacional que se vive no país “é o resultado do falhanço da política do Governo no domínio da habitação nos últimos sete anos, com custos sociais elevados para muitos milhares de famílias”.
“Não faltaram planos apresentados à comunicação social e que ficaram no papel ou no powerpoint”, sublinhou, lembrando que um dos sucessos do PER, programa que foi lançado durante o seu período de governação, foi ter passado do papel à prática:
“O sucesso deveu-se à escolha das opções certas para que o PER passasse efectivamente à prática e a obra nascesse, para que não ficasse no papel, no powerpoint, como hoje se diz, e nas declarações dos governantes para a comunicação social.”
A única nota positiva foi para o fim dos vistos gold, contudo, “o mal está feito. O novo golpe no clima de confiança dos investidores está feito”, concluiu Cavaco Silva.
Os efeitos da sua intervenção começaram logo durante o discurso, com elementos ligados ao Partido Socialista, entre os quais Luísa Salgueiro e Marina Gonçalves, a abandonarem a sala enquanto Cavaco Silva ainda falava.
Luísa Salgueiro não quis explicar aos jornalistas as razões que a levaram a sair da sala. Já a ministra Marina Gonçalves afirmou que nem o Programa Especial de Realojamento foi um fracasso há 30 anos, nem agora o programa Mais Habitação é.
O PS reagiu pela voz de João Torres, secretário-geral adjunto do partido: “Seria expectável por parte de um antigo chefe de Estado um espírito mais construtivo e menos destrutivo”, disse, em declarações à rádio Observador.
Posteriormente o Governo reagiu às críticas de Cavaco Silva, com a ministra Mariana Vieira da Silva a afirmar que “aqueles que só sabem criticar e que não têm contribuído para a construção de alternativas ficam com essas críticas. Ao Governo cabe contribuir para melhorar e resolver os problemas dos portugueses”.
Já Luís Montenegro, presidente do PSD, acusou o PS de conviver mal com espírito crítico de Cavaco, considerando ainda que os socialistas têm falta de “fair-play democrático”.
“Lamentamos profundamente que o PS conviva mal com o espírito crítico de alguém que tem no seu percurso a responsabilidade de ter governado o país 10 anos e depois ter sido Presidente da República outros 10. É o político português mais escrutinado no sentido de ser escolhido pela população portuguesa desde o 25 de abril”, afirmou Luís Montenegro.