Escrevo numa altura em que não sei quaisquer resultados de eleições, e cujos últimos cartuxos se vão gastando. Alguns gastam-nos de forma mais ou menos desesperada, enquanto outros pavoneiam-se com confiança.
Como último espaço de reflexão pré resultado eleitoral, julgo que será útil fazer uma reflexão contemplativa no que diz respeito ao Ministério da Saúde, área onde provavelmente terei mais créditos para dar uma opinião fundada.
Importa dizer, que a tarefa do Dr. Paulo Macedo no inicio do seu mandato era gigantesca. Convivia-se com destruição do Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente com a sua falta de verbas, a sua falta de financiamento, e o absoluto descontrolo sobre as operações.
Como em tudo na vida, é complicado quando se vive num 8, não se tentar resolver com medidas extremas, próximas do 80. É um conforto estranhamente humano…
Acabou por ser essa a tentação do ministro numa fase inicial. Movido pela sua formação académica economicista, e, muito provavelmente, mal assessorado, pegou numa tesoura e cortou a direito nas gorduras. Gabo-lhe a coragem inicial, invejo-lhe, contudo, a ingenuidade. Em todo o caso, aguentou-se, percebeu que a economia da saúde difere da economia de mercado normal em muitos pontos, e foi inteligente… adaptou-se.
Geriu como poucos os principais conflitos com grupos profissionais: os médicos, os técnicos de diagnóstico e terapêutica, os enfermeiros, os técnicos de emergência… Solucionou os problemas de todos? Não, claro que não. Será possível acudir a todos? Soube, no entanto, gerir expectativas, redesenhar novos objetivos e manter o barco em velocidade de cruzeiro.
Os números são factos que falam por si, e diversos relatórios Europeus apontam para o sucesso do Ministério da Saúde Português que soube com pouco fazer muito e manter qualidade de atendimento.
Esteve bem o ministro a devolver louvores aos profissionais como os obreiros desta manutenção de índices estatísticos. Teve, igualmente, um papel fundamental na gestão da divida às farmacêuticas, sem prejuízo dos doentes. Tiro-lhe o chapéu.
No geral foi uma legislatura interessante. Como tenho repetidamente insistido, há outros caminhos, é preciso mais coragem reformista, é preciso tentar fazer diferente. Contudo, não podemos ignorar estes sucessos alcançados. Todos os caminhos da melhoria são válidos, mesmo quando não concordamos integralmente com eles.
Espero que na próxima legislatura se encontrem formas de manter o SNS sem prejuízo dos doentes, e sobretudo mantendo sãos os profissionais de saúde. Que o esforço diário em prol do doente seja reconhecido no terreno e não apenas com louvores.
Existem múltiplos desafios de melhoria. Existem múltiplas hipóteses de se ser bem-sucedido. Espero que haja a inteligência de escolher as melhores.
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.