Catarina Martins foi contratada como funcionária do Bloco de Esquerda um dia após ter deixado a Assembleia da República, em setembro de 2023. A antiga coordenadora do partido auferiu um salário de 1.100 euros mensais, num período em que o BE reduziu custos, fechou sedes e despediu funcionários devido a dificuldades financeiras.
Catarina Martins, antiga líder do Bloco de Esquerda, passou a integrar o quadro de funcionários do partido um dia após ter deixado a Assembleia da República, em 14 de setembro de 2023. A informação consta da declaração de rendimentos entregue no Parlamento Europeu, onde Catarina Martins tomou posse como eurodeputada em julho de 2024. Durante esse período, recebeu 1.100 euros mensais do partido, enquanto o Bloco atravessava um período de cortes financeiros, que incluíram despedimentos e encerramento de estruturas locais. A notícia foi avançada pelo jornal Observador, a 24 de novembro de 2024 e ganha nova relevância numa altura em que o partido está envolvimento numa polémica nova dispensa de trabalhadoras.
Além do salário pago pelo BE, a antiga coordenadora auferia 500 euros mensais pela participação no programa Linhas Vermelhas, da SIC Notícias. O Observador cita o partido, que em resposta ao jornal justificou a contratação referindo que Catarina Martins desempenhou funções políticas, mas não especificou quais.
A situação tem gerado controvérsia nas redes sociais, uma vez que, um ano antes, a própria Catarina Martins tinha promovido cortes drásticos no quadro de funcionários do BE, na sequência dos fracos resultados nas legislativas de 2022, onde o partido passou de 19 para 5 deputados. Na altura, Catarina Martins explicou que era necessário garantir a sustentabilidade financeira do partido, assegurando que o BE “não tem dívidas, não pede favores e tem de ter contas certas e transparentes“.
A reformulação interna do partido levou ao fecho de sedes, ao despedimento de funcionários e a uma reorganização das estruturas distritais, com 60% de cortes nos custos totais, afetando 50% da estrutura nacional e 50% das delegações locais. O BE procurou reduzir o trabalho profissionalizado, apostando mais no voluntariado dos militantes. A medida foi alvo de críticas internas, com acusações de abuso de poder pelo tratamento dado aos funcionários dispensados.
A revelação de que Catarina Martins foi contratada pelo BE no dia seguinte à sua saída do Parlamento contrasta com o discurso de austeridade do partido e tem levantado questões sobre a coerência das decisões internas do Bloco de Esquerda.
Mais recentemente, em 21 de janeiro de 2025, a Revista Sábado avançou que o Bloco de Esquerda “despediu cinco trabalhadoras que ainda amamentavam”. O Partido negou inicialmente, mas Mariana Mórtagua veio, entretanto, admitir que o Bloco de Esquerda cometeu erros no despedimento de recém-mães.