O NOTÍCIAS MAIA falou com o diretor do Colégio Imaculada Conceição para entender como está a realidade do ensino em Portugal.
A pandemia obrigou à adaptação da vida quotidiana e, naturalmente, ao ensino nas escolas. As crianças e jovens viram-se obrigadas a estar em casa e as escolas fizeram as adaptações possíveis para que o ensino não parasse.
Para entender como está a atual saúde do ensino em Portugal, o NOTÍCIAS MAIA falou com Luís Fernandes, diretor do Colégio Imaculada Conceição.
O diretor desta instituição, que conta com cerca de 185 alunos que se dividem entre o pré-escolar e o 2º ciclo, explicou-nos como está a acontecer esta adaptação à nova realidade, o que mais o preocupa e como vê o futuro da educação.
Afinal, com toda esta adaptação à pandemia de Covid-19, estarão as crianças a aprender?
Notícias Maia (NM): Começo por lhe perguntar sobre o presente. Como é que o colégio está a funcionar atualmente neste contexto de pandemia?
Luís Fernandes (LF): Nós atualmente temos um protocolo de atuação em vigor no colégio. Um protocolo de atuação para alunos, professores, funcionários, e que abrange as diferentes áreas do colégio, as aulas, os recreios, os espaços comuns para professores, para funcionários. Há naturalmente uma organização diferente da que era habitual.
NM: Como é que lidam com um caso suspeito de Covid-19? Acredito que haja um procedimento.
LF: Claro. Nós estamos em contacto permanente com o delegado de saúde. Quando temos algum caso suspeito, se for detetado por nós, a primeira coisa que fazemos é ligar aos pais. Agora, se for alguma coisa que nos é informada pelos pais, neste caso contactamos o delegado de saúde pública e explicamos-lhe a situação. Depois, em articulação com os pais e com o delegado de saúde, tomamos as medidas que são convenientes para cada situação. Porque também não há nenhuma regra fixe que se aplique a todos os casos.
NM: Para si, como diretor do colégio, o que é que o preocupa mais neste momento?
LF: A maior preocupação é que as famílias estejam tranquilas. Porque a escola é um local seguro. Sempre dissemos aos pais que o risco zero não existe em lado nenhum, e aqui também há riscos. Mas o que procuramos fazer é que, dentro desses riscos, quando existem casos positivos, que esses casos afetem o menos número de pessoas possível.
NM: E já aconteceu no colégio terem casos suspeitos?
LF: De alunos tivemos apenas um caso. Depois houve quatro ou cinco casos de pais. Felizmente não temos tido muitos casos e o que tivemos foram coisas exteriores ao colégio. Acho que tem acontecido assim na generalidade das escolas, são casos exteriores à instituição escolar. Ninguém está livre mas o que dizemos aos pais é que, neste ambiente, as crianças podem brincar e conviver com segurança.
NM: Como é que a educação tem funcionado com este vírus? Os padrões de qualidade e exigência mantém-se? Isto é, os alunos estão a aprender?
LF: No período em que estivemos encerrados, entre março e junho, no terceiro período, os alunos tiveram sempre aulas online. Fizemos um esforço nesse sentido, de acompanhar os alunos. Eles tiveram praticamente o currículo todo mas notamos que, entre o ensino online e o ensino presencial, há uma grande distância. Por maior que seja o esfoço que fizemos e que façamos para que eles consigam acompanhar as aprendizagens, é completamente diferente estar a ensinar à distância e estar aqui na escola. O ensino online não permite que o aluno seja acompanhado da mesma forma. Nós sentimos que, no início deste ano, os alunos, de certa maneira, não aprenderam tudo o que podiam ter aprendido no ano anterior. Este ano estamos a procurar recuperar o “tempo perdido”. Mas, apesar de tudo, foi um ano em que todos nós aprendemos muito.
NM: Nesse sentido, a Telescola ajudou?
LF: Nos colégios privados nós recorremos pouco à Telescola. Pelo menos aqui, como tínhamos aulas no período letivo entre as 9h e as 16h, nós já tínhamos aulas, por isso não era preciso recorrer à Telescola.
NM: Como tem sido a adaptação dos alunos e dos professores? Sente que estão todos a remar para o mesmo lado?
LF: Sim, sinto que estamos todos a remar para o mesmo lado. Foi muito tempo em casa e, no início do ano, sinto que se sentia muito receio. Não se sabia ainda o que ia acontecer. Agora penso que as pessoas, apesar de continuarem naturalmente apreensivas, já estão mais à vontade. Já se percebe que as crianças brinca mais à vontade. No fundo, todos nós, a partir do momento em que saímos de casa, começámos a aprender a conviver com o vírus. Passa a haver uma rotina.
NM: Este modelo mais digital pode continuar no futuro? Por exemplo, este modelo pode permitir que um aluno, quando está doente em casa, possa continuar a assistir às aulas?
LF: Eu acho que o modelo pode continuar no futuro, mas tem limitações. Uma coisa é usar meios digitais no colégio enquanto os alunos cá estão. Outra coisa é que eles aprendam a partir de casa. A educação pressupõe sempre uma relação de proximidade, com o professor, com os colegas, com os pais e, num ensino totalmente digital, isso perde-se. Educar é um ato de amor e, para haver amor, é preciso proximidade. E isso perde-se quando o ensino é à distância. Acredito que o ensino vai ser cada vez mais digital no sentido em que, dentro das próprias escolas, vai haver um recurso cada vez maior ao digital. Agora, que o ensino se torne online, com as crianças fora da escola, penso que só por motivos como uma pandemia. Mas pode acontecer aquilo que me falava. Que uma criança, quando está doente, possa acompanhar as aulas em casa. Nesse sentido, pode ser uma opção muito interessante e a explorar.
NM: Para terminar, como é que vê o futuro da educação?
LF: Eu penso que os colégios e as escolas que tenham um projeto educativo mais diferenciado, serão as instituições que mais se vão destacar. Cada vez mais, os pais procuram coisas que sejam diferentes. Eu acho que o futuro da educação será de cada vez mais autonomia para as escolas. E aqui falo mais das escolas públicas, porque os colégios acabam por ter mais essa autonomia. Penso que o futuro passará por dar mais autonomia às escolas para que estas possam definir os seus projetos educativos e para que os pais possam escolher uma escola que vá mais ao encontro da sua maneira de pensar.