As eleições legislativas do próximo dia 30 são provavelmente as mais disputadas de que tenho memória, mas também de resultado menos previsível, designadamente sobre quem vai ser o vencedor e se vamos ter uma maioria de esquerda ou de direita no Parlamento.
Tudo agravado pelo facto de estarmos ainda em plena pandemia, com cerca de um milhão de portugueses em confinamento, apesar de manterem o direito de exercer o seu direito de voto no próximo domingo.
Há cerca de cinco meses atrás, o PS de António Costa mantinha cerca de 10% de vantagem nas intenções de voto sobre o PSD de Rui Rio.
Entretanto, vieram as eleições autárquicas de 26 de Setembro, onde o PSD recuperou a liderança de diversas Câmaras Municipais, incluindo algumas capitais de Distrito, designadamente Coimbra e Lisboa. Em 27 de Outubro o Orçamento de Estado para 2022 foi “chumbado” no Parlamento, levando o Presidente da República a dissolver a Assembleia da República em 5 de Dezembro e a marcar eleições legislativas antecipadas. Pelo meio, Rui Rio enfrentou umas disputadas eleições internas, vencendo Paulo Rangel e viu o seu mandato reconduzido em 27 de Novembro.
Hoje tudo mudou e os diversos estudos de opinião apontam, nesta altura, para um empate técnico entre o PS de António Costa e o PSD de Rui Rio, não havendo qualquer sondagem a arriscar com grau de certeza quem vai sair vencedor das eleições do próximo domingo.
Existindo todavia tendências claras de que a Iniciativa Liberal e o Chega poderão vir a ter mais deputados no próximo Parlamento e que o CDS/PP, ao contrário, poderá vir a ter um grupo parlamentar bem mais reduzido. Da mesma forma que também não ficaria surpreendido se o Bloco de Esquerda e o PAN viessem a eleger menos deputados do que conseguiram nas eleições de 2019.
Sendo que tudo isto pode vir ainda a sofrer “ajustamentos” face ao elevado número de indecisos que ainda subsiste e a uma natural bipolarização do voto, que é expectável que também venha a suceder, pois em bom rigor, para a grande maioria da população o que está verdadeiramente em causa é se querem a permanência de António Costa como Primeiro-ministro ou se querem mudança e uma nova liderança na governação do país, protagonizada por Rui Rio.
A verdade é que o PS de António Costa nos últimos cinco meses perdeu a vantagem nas intenções de voto que possuía sobre o PSD de Rui Rio.
As eleições autárquicas foram importantes, a relegitimação de Rui na liderança do PSD foi muito importante, mas sinceramente eu acho que a campanha eleitoral, e em particular os debates televisivos foram especialmente importantes para um despertar, para um confronto com a verdadeira realidade do país por parte dos portugueses. Os debates tiveram elevadas audiências e foram bastantes esclarecedores. E acentuaram bem as diferenças entre António Costa e Rui Rio, e diria mesmo, as diferenças entre as propostas de governação que oferecem os programas do PS e do PSD.
De um momento para o outro os portugueses começaram a dar valor ao facto de Portugal estar hoje na cauda da União Europeia, claramente numa tendência de divergência em termos de PIB per capita e a ser ultrapassado por muitos dos países que há dez anos atrás estavam bem distantes de nós, a sentir na pele a crescente degradação dos serviços públicos, apesar da enorme carga fiscal a que estão sujeitos, e a ficar assustados com o constante crescimento da dívida pública, já acima dos 130% do PIB. Mais ainda, quando começaram a perceber que Portugal é hoje um dos países mais assimétricos da União Europeia, onde as desigualdades salariais, de distribuição de rendimento e de riqueza são maiores e a ser confrontados com a frieza dos números, que confirmavam que em 2021, 60% dos trabalhadores portugueses por conta de outrem ganhavam menos de 1000 euros/mês, 30% menos de 750 euros, 26% apenas o salário mínimo nacional e que a mediana dos salários em Portugal rondava somente os 900 euros/mês, com a agravante de que 20% da população portuguesa estava mesmo em risco de pobreza. Mas pior ainda, quando perceberam que apenas a Área Metropolitana de Lisboa possuía um PIB per capita equivalente à média da União Europeia.
Sendo que nos últimos 25 anos, o PS esteve na liderança da governação do país durante cerca de 18 anos…e o PSD apenas 7.
Por último, existe uma crescente sensação de que parte do eleitorado está cansado da governação de António Costa, frequentemente errática e ziguezagueante, assente numa estratégia de “navegação à vista”, aqui e acolá de “faz de conta”, e com sucessivas concessões à extrema-esquerda. E em contrapartida, uma crescente vontade de experimentar uma nova liderança assente numa estratégia clara e consistente, que ofereça melhor Estado e que coloque o país novamente na rota do crescimento económico sustentado. E a verdade, é que são cada vez mais aqueles que apreciam a postura de Rui Rio, de autenticidade, de rigor e seriedade, de sentido de responsabilidade e que apenas promete aquilo que sabe poder cumprir.
Esperemos pelo próximo domingo. Lá para o final da noite ficaremos a saber, se os portugueses preferiram a continuidade ou se optaram mesmo pela mudança.
Paulo Ramalho