Misericórdias e instituições de solidariedade pedem ajuda ao Presidente da República
“Não consideramos aceitável transformar as estruturas residenciais, os denominados lares, em estruturas de saúde. Tem de ser encontrada, a nível nacional, uma solução para colocação dos idosos que estão infetados”, afirmou em conferência de imprensa, esta segunda-feira, Francisco Araújo, o presidente do Conselho Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
Também a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) considera que é criminoso ter os idosos infetados com Covid-19 que não necessitam de internamento hospitalar de volta para os lares de terceira idade e pede a intervenção do Presidente da República.
“O COVID-19 é uma doença aguda, de rápida evolução, alta contagiosidade, e elevada mortalidade na população frágil e idosa. Noutros países europeus assistiu-se a cenários de extrema gravidade nos idosos em lar tendo esta população chegado a representar 30% da mortalidade diária”, afirmam a UMP e a CNIS, acrescentando que “os Lares em Portugal são instituições de restrito âmbito social. Apesar das alterações nos últimos anos das necessidades da população residente nos lares, nunca foi permitida pelo Estado a sua requalificação, apesar de todas as diligências das instituições representativas do setor.”
As as instituições sublinham ainda que “um doente com infecção COVID-19 necessita de cuidados de saúde, com vigilância diária por médicos e enfermeiros. Precisará muito provavelmente de controlo sintomático em fim de vida por doença aguda e rapidamente progressiva. Suporte que os lares não podem dar sem o apoio complementar da saúde”.
“Não consideramos aceitável transformar as estruturas residenciais, os denominados lares, em estruturas de saúde”
Para Francisco Araújo “tem de ser encontrada, a nível nacional, uma solução para colocação dos idosos que estão infetados”, defendendo que “o Ministério da Saúde tem muitos recursos pelo país fora. Neste momento, uma parte deles podia ser alocada para esta necessidade, o que muito contribuiria para desafogar a incidência que existe nos hospitais”.
O responsável acredita que é necessário haver uma intervenção “superior”, do Presidente da República ou do Primeiro-ministro, para sensibilizar a tutela da Saúde no sentido de se articular com a da Segurança Social.
Lembrou ainda que as autarquias de todo o país têm disponibilizado espaços para acolher os doentes que ainda não necessitam de cuidados hospitalares, mas o que tem estado a acontecer “é retirar os utentes que estão saudáveis das unidades residenciais, dos lares”, ficando “os utentes que estão doentes”.
“Estes [os doentes] é que deveriam ser retirados” para serem intervencionados “ao nível de cuidados de saúde”, porque não podem estar à responsabilidade de “profissionais da área social que não têm equipamento, nem condições para tratar destas pessoas”.
Sublinhou que “estão a pôr-se em risco a eles e às suas famílias. Isto é desumano, não pode ser”.
“Alastra entre dirigentes e trabalhadores dos lares uma sensação de impotência e abandono por parte do Governo”
Em comunicado em conjunto, UMP e CNIS, afirmam ainda que “o Governo, através do despacho conjunto, seguido da Orientação da DGS 09-2020, atualizada em 07-04-2020, veio agora claramente impor aos Lares a vigilância e tratamento de doentes com infecção COVID-19, sem definir a cobertura necessária de médicos enfermeiros e o fornecimento de EPI”.
Referindo que a Autoridade de Saúde “deverá assegurar antecipadamente o seguimento clínico pelo hospital e pelos ACES e ULS eficaz, com adequada alocação nominal de profissionais e respectivos horários, e o fornecimento de equipamentos de protecção individual”.
“Os profissionais estão a dar provas de enorme competência e espírito de Missão, muitos vivendo no local longe das famílias, garantindo segurança aos utentes”, no entanto , “as auxiliares não podem prestar cuidados de saúde em doença aguda. Não é a sua competência nem a sua missão. Não são médicos, nem enfermeiras”.