Portugal vs Ucrânia: A resposta nem sempre é a que estamos à espera.
Diferentes países implementaram diferentes soluções para combater a pandemia. Nesta crise inesperada, que repentinamente alterou a nossa maneira de viver, acabamos retidos nas nossas casas, nas nossas cidades e nos nossos países. Chegado o desconfinamento, e com ele uma atitude mais relaxada mas também mais informada, é possível sairmos da nossa realidade dos últimos quatro ou cinco meses e vêr mais de perto como outros países estão a lidar com esta crise de saúde e, igualmente, com as dificuldades económicas que ela trouxe. A meio de uma visita prolongada à Ucrânia, mais precisamente a Odessa, a escolha da crónica deste mês não poderia ser outra.
Odessa, com cerca de um milhão de habitantes, é uma cidade portuária no sul da Ucrânia. Banhada pelo Mar Negro, há muito que é o refúgio de verão de eleição dos ucranianos, principalmente aqueles vindos de Kiev e que procuram aproveitar um fim-de-semana de praia, longe da confusão da metrópole.
Em tempos foi o mais importante porto da União Soviética e local de exílio do poeta Alexander Pushkin, que a chamava de “a mais europeia das cidades russas”. Mais recentemente, foi um dos pontos importantes da revolução de 2014, com a população a tomar o lado pró-europeu em detrimento da Rússia. Sem surpresa, devido à sua história e às suas condições naturais, um dos setores mais importantes da economia de Odessa é o turismo.
Ao chegar a Odessa, esperava ver uma cidade de ruas semi-desertas e, tal como em Portugal, até porque o número de casos de infeção tem vindo a ser similar nos dois países, um desfilar das mais variadas máscaras de proteção e o desconforto com a proximidade entre estranhos. Não podia estar mais errado. É visível a estranheza de ver um Português a entrar nos restaurantes e nos supermercados de máscara, a andar sozinho de elevador e a pedir um táxi onde o condutor também use máscara.
Nesta cidade cheia de turistas, principalmente domésticos e com apenas uma meia dúzia de estrangeiros facilmente identificáveis, as ruas estão cheias, os restaurantes e bares repletos de animados clientes e as máscaras parecem ser, no máximo, um acessório que se pendura ao pescoço. Há concertos altamente concorridos, festas sem qualquer distanciamento, multiplicam-se os cumprimentos calorosos e nem nos transportes públicos há o mínimo dos cuidados, excetuando claro, o álcool-gel, presente em quase todo o lado e que levemente nos recorda que há uma pandemia que já causou centenas de milhares de vítimas.
Com o nosso Algarve a registar quebras inéditas, com tantas listas vermelhas e incontáveis restrições, como é possível que sejam tão díspares as atuações dos governos e, principalmente, das populações?
Estou certo que diferentes países escondem diferentes realidades e, para já, não podemos afirmar categoricamente quem está no caminho certo. No entanto, é possível perceber que em Portugal se está possivelmente a fazer mais pela saúde dos locais e dos turistas. A Ucrânia, para já, ganha na obrigatoriedade de quarenta ou de teste à chegada, para uma lista de países considerados de risco.
Mesmo assim, se a resposta não for pelo menos semelhante em todos os países, como é que é garantido que no próximo inverno não voltamos todos a ficar vários meses em isolamento? Está Odessa e a Ucrânia e deixar em segundo plano a saúde, em favor da economia? E, afinal de contas, quem está certo?
João Loureiro