“Do Mundo para a Maia” é a nova rúbrica do NOTÍCIAS MAIA. Depois de lhe contarmos as histórias dos nossos “Maiatos pelo Mundo”, trazemos-lhe agora os testemunhos de quem escolheu a Maia para viver.
Nauara Vasconcelos nasceu em Manaus (Amazonas, Brasil) e vive na Maia desde 2017. Decidiu cruzar o Atlântico quando tinha apenas 20 anos e hoje, com 25, não hesita em dizer que se sente em casa.
Ainda que tenha já sofrido discriminação, a balança pesa para o lado positivo com a qualidade de vida e segurança que consegue ter em Portugal. Conheça o seu testemunho.
Notícias Maia (NM): Como é que começa a tua história em Portugal e na Maia?
Nauara Vasconcelos (NV): A ideia partiu do meu namorado, o Caio. Nós já namorávamos há uns dois anos e surgiu essa vontade em morar fora. Eu nunca tinha pensado em sair de Manaus, mas depois acabei por gostar da ideia. O Caio tem uma tia a viver cá na Maia há uns 10 anos, falou com ela, e ela disse logo que nos ajudava. Inicialmente queríamos vir para cá estudar, até porque eu estava a tirar enfermagem lá em Manaus, mas não foi possível. Ainda assim, decidimos vir na mesma para trabalhar. Consegui trabalho aqui na Maia e, para ser sincera, quero continuar por cá. A Maia é um local muito bom para nós, temos tudo aqui.
NM: Qual foi a tua impressão da Maia quando cá chegaste? Era muito diferente de onde vivias no Brasil?
NV: Na verdade toda a gente pensa que o Amazonas é mato, índios e animais na rua. Mas é complemente diferente! Tens a cidade que é muito grande e desenvolvida e, claro, tens a parte turística que é a Amazónia. A Maia é totalmente diferente. Aliás, acho que é impossível sair do Amazonas, vir para a Europa, e não sentir a diferença. Mas é encantador, senti-me num filme nos primeiros tempos.
NM: Viveste a maior parte da tua vida no Brasil. Antes de vires para cá, tinhas alguma ideia do que era Portugal?
NV: Não, até porque nunca me tinha passado pela cabeça vir para cá. E também não há muito conteúdo português a chegar ao Brasil.
NM: Vieste para cá com 20 anos. Já quiseste ir embora?
NV: Não, nunca pensei nisso. E também acho que não vou querer ir embora, porque tive muitas oportunidades boas aqui. Em Manaus eu não tinha estabilidade financeira, vivia na casa dos meus pais e dependia deles para tudo. Eu estudava de dia e fazia estágio à noite. Quando vim para cá, senti logo uma independência muito grande.
NM: E em relação à faculdade, gostavas de conseguir terminar Enfermagem aqui em Portugal?
NV: Hoje, sinceramente, eu não faria enfermagem. Eu queria muito continuar a faculdade, noutra área, mas neste momento não consigo conciliar o trabalho e a faculdade. Acho que só poderia fazer isso se tivesse algum dinheiro guardado e que me permitisse trabalhar em part-time, por exemplo. Por isso, para já, não é possível.
NM: Apesar de falarmos todos português, sentiste alguma barreira na língua quando cá chegaste?
NV: Com certeza! (risos) Nós conseguimos entender-nos, mas eu fui aprendendo muito no trabalho, principalmente porque trabalho no atendimento ao público. Calças de ganga, por exemplo, eu não sabia o que era (risos), no Brasil é calça jeans.
NM: E, lidando com o público, sentiste que havia resistência e alguma discriminação por seres brasileira?
NV: Sim, infelizmente sim. Eu já ouvi alguns relatos que antigamente havia um grande preconceito, mas eu dizia sempre que nunca tinha sofrido e que isso já não era assim. Mas, de há dois anos para cá, ainda que seja raro, ouvi algumas palavras mais duras, mas sempre no trabalho. A lei diz que o cliente tem sempre razão, mas sabemos que não é assim. Um dia um homem disse-me que eu não sabia nada e que devia voltar para a minha terra. Ele saiu da loja, eu liguei para o meu chefe e disse que queria ir embora. Foi horrível, fiquei muito triste. Porque já é tão difícil estar longe da minha família. Mas pronto, vida que segue.
NM: E falando de coisas boas. De que é que mais gostas em Portugal? Comida, por exemplo.
NV: Francesinha é tudo para mim! (risos) Mas não consigo gostar de bacalhau. A minha família adora e, sempre que vou ao Brasil, tenho de levar na mala. Porque lá é muito caro. Senti muita diferença na culinária e confesso que tenho muitas saudades de alguns pratos.
NM: Além da estabilidade que falavas há pouco, achas que Portugal te trouxe uma vivência que não terias se continuasse a viver no Brasil?
NV: Com certeza! Aqui conseguimos viajar umas três vezes por ano, e depois é muito rápido e acessível chegar a outros países. Desde que cá estamos já conhecemos muitas cidades, como Paris e Londres! E isso eu não troco por nada. No outro dia estava a falar com um amigo, que está a pensar vir para Portugal, e disse-lhe que não tenciono voltar para o Brasil. Só voltava se fosse uma necessidade de família, se a minha mãe ou o meu pai precisassem de mim. Aliás, penso em trazê-los para cá, mas eles têm algum medo.
NM: É mais fácil imigrar quando se é mais jovem?
NV: Eu acho que sim. Para mim e para o Caio foi mais fácil porque nós não tínhamos nada construído no Brasil. E também há uma certa loucura de ir sem pensar. Mas acabou por nos correr bem, e somos muito felizes aqui. Temos qualidade de vida e segurança, e isso é o mais importante para nós.
NM: E em relação aos portugueses, nós acolhemos-te bem?
NV: Sim, há portugueses maravilhosos! Não tenho muitos motivos para me queixar, tirando um ou dois casos. Tenho muitos amigos portugueses de quem gosto muito.
NM: De que é que sentes mais saudades do Brasil e de Manaus?
NV: A minha família, sem dúvida! E da culinária também (risos). Mas há algumas coisas que dá para fazer aqui, e também vamos descobrindo alguns produtos parecidos.
NM: Para terminar, sentes-te em casa?
NV: Completamente. Sendo mesmo sincera, sinto-me mesmo em casa e não me imagino a viver noutra cidade.