Em Portugal, há mais de 1,6 milhões de cidadãos, registados no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que não têm médico de família atribuído.
Segundo dados do Portal da Transparência do SNS, destacados na quarta-feira, dia 5 de abril, pelo jornal Público, a percentagem de pessoas sem médico de família atingia 28% dos inscritos em Lisboa e Vale do Tejo em março (1.093.468 pessoas).
No Algarve, a percentagem era menor, de 21% e no Alentejo ainda menos, situando-se nos 15,7%. Já na região Centro, o número de inscritos sem médico subiu para 11,6% no mês de março. No Norte, o número é ligeiramente inferior, sendo que apenas 2,7% das pessoas não têm médico de família atribuído.
Ora, a saída de alguns médicos do SNS, o aposentamento de outros, e ainda os que vão para o privado ou para o estrangeiro, são vários dos motivos que levam a que Portugal tenha mais de 1,6 milhões de cidadãos sem médico de família, o valor mais alto nos últimos oito anos. Para além disso, há dois concursos de recrutamento de jovens especialistas por ano. Do lado da procura, também há novos utentes a inscreverem-se nos centros de saúde.
“Não há medidas estruturais nem um plano para atacar o problema”, afirma ao Público João Rodrigues, coordenador de um grupo de trabalho responsável por apresentar propostas para a reforma dos cuidados de saúde primários. Desde 2021 até aos dias de hoje, as propostas que saíram desse grupo ainda não foram aplicadas: “Ou se aposta em medidas estruturais para a década ou a situação vai piorando”, avisa, pedindo que “haja capacidade para atrair [os médicos] e reter no SNS”.
“Já temos médicos de família em número suficiente — formamos cerca de 500 por ano. O problema é que, em média e nos últimos anos, ficam no SNS apenas 65% e, ao fim de um ano, ainda saem mais 15%”, acrescentou João Rodrigues.