Saíram as colocações nas universidades nacionais. Uns riram de alegria, outros riram de histeria, outros… não riram… No final, algumas certezas!
A primeira certeza foi a de que, este ano o paradigma mudou! Medicina já não é a preferida pelos alunos do secundário das escolas nacionais. Foi destronada por alguns cursos no domínio das Engenharias.
Reconheço que esta constatação me levou por uma viagem reflectiva que ouso agora partilhar. Mas afinal, porquê?
Em primeiro lugar alguns esclarecimentos. Efectivamente, não acho que as melhores notas dão os melhores médicos, ou quaisquer outros melhores profissionais, que os maiores marrões sejam os mais inteligentes, e, definitivamente, não concordo com o método de seriação para entrada na faculdade que é seguido em Portugal…
A medicina, é indiscutivelmente uma ciência com arte.. Não é o conjunto de somas, subtracções, divisões e multiplicações de rigidez aritmética… por isso não só na Medicina, mas em todas as Universidade e faculdades deste país, devia ser-lhes concedida a oportunidade de escolher o perfil de alunos que deveriam ter. Será que um aluno com média de 20 Valores será um melhor médico que um aluno com média de 17 Valores?
Será que uma vivência humana, de contacto social não deveria pesar na escolha de uma profissão onde se lida directamente com pessoas?
Claro está que isso poderia condicionar aproveitamento por parte de alguns, com eventuais desvios de transparência, mas isso respondo com uma palavra que tem faltado a alguns responsáveis: Responsabilização. Se as pessoas com responsabilidades públicas forem Responsabilizadas pelos seus actos (passo o pleonasmo), provavelmente as suas decisões serão mais assertivas.
Saiba o leitor que Portugal é dos poucos países da União Europeia com excedente de médicos. Neste momento nos países mais desenvolvidos, não compensa o investimento na formação de jovens médicos, por isso formam números mínimos, pois sabem que, mais tarde ou mais cedo, vêm busca-los aos países do Sul da Europa onde Portugal se destaca pela sua excelência de ensino.
Insisto que Portugal tem, actualmente um dos maiores rácios de médico por cada 1000 habitantes da União Europeia, e isto diz tudo.
É preciso encontrar um equilíbrio, para não nos tornarmos uma espécie de cuidadores de saúde da Europa a preços reduzidos, com máxima qualidade para fora e com pouco acesso aos nossos cidadãos.
Não haverá melhor local para direccionar o dinheiro usado para formar este excedentário de médicos e aplicá-lo noutras áreas da educação?
Os jovens Portugueses provavelmente já se aperceberam que a vida de médico é dura, muito longe do retorno financeiro e da segurança que se julgava existir.
Os resultados deste ano, muito provavelmente, iniciarão novo ciclo, tal como já aconteceu com outras áreas do ensino como o Direito ou a Arquitectura.
Urge chamar os responsáveis para a mesa, mudar regras, criar incentivos, dinamizar ainda mais universidades e aproximá-las da população. Urgem medidas para que as faculdades tenham os melhores na sua área, para o dom que desenvolvem. As Universidades devem tornar-se pro-activas desde os tempos do secundário até aos tempos de iniciação laboral…
No meio disto, provavelmente estará o equilíbrio necessário… mas para o atingir é necessário começar por ser disruptivo!
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
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