O ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, foi constituído arguido por abuso de poder no âmbito do caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma. A Polícia Judiciária (PJ) realizou buscas na sua residência, no Ministério da Saúde e no Hospital de Santa Maria.
A investigação, conduzida pela Polícia Judiciária, envolve acusações de abuso de poder, burla qualificada e prevaricação. A operação de buscas, que teve início na manhã desta quinta-feira, visou a recolha de documentação e provas relacionadas com o caso.
As buscas ocorreram em várias localidades, incluindo o antigo gabinete de Lacerda Sales no Ministério da Saúde e a residência do ex-secretário de Estado em Leiria. As investigações também se estenderam à casa de Daniela Martins, mãe das gémeas, no concelho de Oeiras, e ao Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, unidade de Cascais.
Segundo o Observador, a Polícia Judiciária está a examinar minuciosamente os emails de Lacerda Sales, especialmente as comunicações com a sua ex-secretária e outros membros do seu gabinete, bem como com o ex-diretor clínico do Hospital de Santa Maria, Luís Pinheiro.
O caso remonta a 2020, quando as gémeas luso-brasileiras Lorena e Maité adquiriram nacionalidade portuguesa em tempo recorde e receberam tratamento com o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros. Suspeitas de favorecimento e influência indevida envolveram o ex-secretário de Estado e o Presidente da República.
O relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) concluiu que o acesso das gémeas ao SNS foi irregular, não cumprindo os requisitos legais. A auditoria conduzida pelo Hospital de Santa Maria também apontou para a intervenção direta do então secretário de Estado na marcação das consultas.
Em resposta às buscas, o Ministério da Saúde confirmou a colaboração total com as autoridades, garantindo o acesso a todos os documentos e dados necessários para a investigação.
Reações políticas
Durante a campanha para as eleições europeias, vários candidatos reagiram às notícias das buscas. A antiga ministra da Saúde afirmou não ter ligação ao caso e expressou confiança nas instituições. João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, e João Oliveira, da CDU, destacaram a importância da investigação sem comentários adicionais. Sebastião Bugalho, da AD, recusou-se a comentar por considerar inadequado em contexto eleitoral.