O NOTÍCIAS MAIA falou com Robert Schad, o artista alemão responsável pela nova escultura da Maia, que já pode ser vista na Praça do Município.
Zmork para a Maia é a nova escultura residente na Praça do Município. A obra, de cerca de 15 metros e quase quatro toneladas, tem a assinatura Robert Schad, um escultor alemão com trabalhos espalhados por todo o mundo.
Em Portugal, foi o autor da Cruz de Fátima, uma famosa escultura com 34 metros de altura que se encontra no Santuário.
À sua lista de obras expostas, Robert Schad pode agora acrescentar a Maia. Uma cidade que não é um território estranho para o escultor de 68 anos que, em 2017 e 2018, expôs de forma temporária três esculturas também na Praça do Município. Foi aliás dessa exposição que surgiu o interesse de António Silva Tiago para que o artista criasse uma obra exclusivamente para a Maia.
O NOTÍCIAS MAIA falou com o escultor durante uma pequena cerimónia, devido à pandemia, que marcou a inauguração da nova moradora permanente da Praça Doutor José Vieira de Carvalho.
Esta entrevista foi produzida para ser lida e para ser ouvida.
Noticias Maia (NM): Qual foi a inspiração para esta obra?
Robert Schad (RS): A inspiração das minhas peças é sempre a transmissão de uma situação humana, do corpo humano, em aço. Para mim, o aço é o material mais interessante, porque foi trazido pelo homem, da terra, para fazer construções como a Torre Eiffel e as pontes do Porto. O aço era sempre o símbolo da modernidade, mas eu quero entregar o aço à natureza. Esta escultura, a Zmork, parece uma árvore que estava a crescer e vai sempre continuar a crescer.
NM: Porquê homenagear a alma empreendedora da Maia?
RS: Isso não sei, essa foi a interpretação da Câmara. Eu acho que a minha primeira ideia era a de trazer uma forma que não é obsessiva nem brutal. É uma forma elegante, como uma bailarina que dança em cima de pontos. É uma forma bastante feminina porque ela é leve mas, ao mesmo tempo, pesa muito. Tem quatro toneladas mas parece que é de voar. E entregar esse segredo ao visitante só é possível, na minha opinião, em aço.
O aço é um material que usamos normalmente para produzir máquinas, armas e fazer construções. A transmissão daquela matéria para a vida, é talvez uma forma de respeito. Nós vivemos num mundo digital, onde não tocamos em nada, tudo é transmitido por imagens.
Aquela escultura é uma escultura háptica [relativo ao tato]. Se colocar a mão na escultura no verão, é muito quente, e no inverno é muito fria.
NM: Ela envolve-se no ambiente.
RS: Sim, e muda de cor. Porque quando o tempo está húmido, ela está escura e quando está mais calor, ela é clara. Por isso é que eu acho que a ferrugem é a cor mais linda do mundo, porque se transforma.
NM: Como é que foi o processo, desde o convite para fazer esta escultura, até ela estar pronta? Em que ano foi?
RS: Foi há um ano e meio, mais ou menos. Eu expus aqui três esculturas, dentro da minha exposição “Percurso Lusitano”. Era uma exposição com 50 esculturas em todo o país, de Norte a Sul, de Valença do Minho até Tavira. E as três esculturas que estiveram na Maia eram como uma coreografia de três bailarinos diferentes. Depois o presidente da Câmara perguntou se seria possível deixar uma escultura. Mas ela teve de viajar porque era uma exposição que continuava para outros países. Aliás, no ano que vem, segue para Borgonha, em França.
NM: Ou seja, aquelas peças foram viajando vários países e continuam a viajar.
RS: Sim. E depois chegámos à conclusão de fazer uma variação para a Maia. Não uma cópia, uma variação daquelas três esculturas mas num material diferente. E mais alta. Esta tem 15 metros e a outra tinha 12 metros. Porque uma escultura só tem de se definir com mais força. Eu penso que esta dimensão não é grande demais, é ideal para o sítio. Ela vai ser uma das habitantes da Maia no futuro, ela comunica com o povo.
NM: O Robert tem vários trabalhos por Portugal. Qual diria ser o mais imponente, o mais vistoso?
RS: A Cruz de Fátima, claro. É uma escultura de 34 metros de altura com um público muito grande. Eu acho que toda a gente conhece aquela Cruz. Depois, tenho esta na Maia e outra em Santo Tirso. São as três que estão expostas atualmente.
NM: É importante que os municípios deem esta oportunidade dos artistas exporem nas cidades?
RS: Eu acho que sim, porque a cultura faz parte da vida humana. Muita gente pensa que dar uma encomenda a um artista é um apoio só para o artista, mas não é verdade. Eu acho que os artistas também apoiam os municípios ao realizar uma certa comunicação através da arte. Porque a arte é uma maneira de comunicar. Nós temos de colaborar, os municípios e os artistas, como equipa, para mexer a vida e para deixar os traços dos nossos tempos.
Por exemplo, os piores tempos foram os tempos em que não havia nada. No século XIX, houve uns períodos em que não se realizaram muitas obras no espaço público e ninguém sabe desses tempos. Ninguém sabe o que eles pensaram na altura. Porque a arte também é um espelho da nossa sociedade.
NM: A obra intitula-se Zmork para a Maia. O que quer dizer este Zmork?
RS: Os títulos das minhas esculturas são um pouco como os nomes de filhos. Porque eu considero as minhas esculturas como as minhas crianças. E se alguém tem uma criança e lhe chama “sem título”, não convém, é melhor dar-lhe um nome. E aquele nome vem um bocado do sentimento no momento do trabalho. Por exemplo, o trabalho dá-me sempre uma ideia de que nome dar à escultura. Penso em três ou quatro nomes e um fica.
NM: Mas Zmork é um nome? Uma tradução?
RS: É inventado. Não tem nada que ver com alemão nem chinês. O Zmork é aquela personalidade. E é o nome daquele bailarino que faz parte de uma equipa. Uma coreografia mundial onde as minhas esculturas no Brasil, em Moscovo, no Nepal, são todos irmãos desta escultura na Maia. É como uma transmissão de ideias através do mundo todo.