A pouco mais de três meses das Eleições Europeias, o Conselho Europeu para as Relações Externas divulgou um estudo com uma projecção que aponta para um forte crescimento das forças de extrema-direita no Parlamento Europeu, em detrimento dos partidos tradicionais, designadamente do centro, centro esquerda e centro direita.
De tal forma que apesar de prever que o “PPE-Partido Popular Europeu” continuará a ser o maior grupo parlamentar europeu e o “PSE- Partido Socialista Europeu” o segundo, prevê igualmente que o PPE possa perder 34 deputados e o PSE possa perder mesmo 51 deputados nas próximas eleições.
Sendo que a concretizar-se esta previsão, o “Partido Popular Europeu” e o “Partido Socialista Europeu”, grandes representantes dos partidos europeus do centro, deixarão de controlar o Parlamento Europeu como até agora. Com efeito, O PPE e o PSE somam nesta altura, entre os dois, 403 deputados num total de 751. E na próxima legislatura, já sem o Reino Unido, de acordo com a referida projecção, passarão a contar apenas, em conjunto, com 318 deputados num total de 705, ou seja, o equivalente a 45% do número total de deputados. O que reconheça-se, não é nada que surpreenda face à evolução do cenário político que vimos constatando na Europa, e de que Portugal é até aparentemente uma excepção.
A crise nos partidos tradicionais é uma evidência e o crescimento dos partidos populistas, nacionalistas, radicais e eurocépticos é um fenómeno que se tem vindo a afirmar um pouco por todo o território europeu.
O Partido Socialista francês, que liderou o Governo entre 2012 e 2016 foi apenas a quinta força política mais votada nas últimas legislativas francesas, com pouco mais de 5% dos votos. Em contrapartida, a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, ficou em segundo lugar nas presidenciais francesas de 2017 que elegeu Emmanuel Mácron, o líder do novo partido de matriz social-liberal, “Republique En Marche”, criado em 2016. E recorde-se que a Frente Nacional já tinha vencido em França as eleições para o Parlamento Europeu de 2014.
Em Itália, há muito que desapareceram os “tradicionais partidos” que governaram alternadamente o país até 1992, designadamente o “Partido da Democracia Cristã “ e o “Partido Socialista Italiano”. Foram substituídos por novos partidos e movimentos de duração raramente longa e frequentemente de origem mais ou menos circunstancial. Hoje a Itália é governada pelo “La Liga”, partido da extrema-direita de Mateo Salvini e pelo “M5S- Movimento Cinco Estrelas”, movimento anti-sistema, populista e eurocéptico, liderado por Luigi di Maio e fundado em 2009. O “Partido Democrático”, força política de centro-esquerda, constituído em 2007, e que governou o país entre 2013 e 2018, obteve apenas 18,7% dos votos nas últimas eleições.
Na Grécia, o “PASOK”, partido de matriz socialista que liderou o panorama político do país entre 1981 e 2012, obteve nas últimas eleições legislativas, que decorreram em 2015, apenas 6,3% dos votos. Em contrapartida, o “SYRIZA”, partido de extrema-esquerda, fundado apenas em 2012, e que nesta altura governa a Grécia, alcançou nessas mesmas eleições 35,5% dos votos. E o “Aurora Dourada”, partido de extrema-direita, chegou já aos 7%.
Em Espanha, também o “PP- Partido Popular” e o “PSOE-Partido Socialista Operário Espanhol”, que têm alternado na governação do país, passaram a contar com a forte concorrência de duas novas forças políticas: o “Podemos”, partido de esquerda populista e eurocéptico, fundado em 2014 e o “Ciudadanos”, partido de inspiração liberal, criado em 2006. Nas eleições legislativas de 2016 o “Podemos” alcançou já 21% dos votos e o “Ciudadanos” 13%. E nesta altura emerge também em Espanha uma nova força política, de extrema-direita, constituída em 2013, o “VOX”, partido que nas últimas eleições para a Andaluzia alcançou 11% dos votos, e que segundo algumas sondagens poderá eleger seis deputados nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
Na Alemanha, a “CDU-União Democrata Cristã”, partido conservador de centro direita e o “SPD-Partido Social-democrata”, de centro esquerda, que têm dominado a governação política do país, começam a ter de conviver com a presença crescente da extrema-direita populista, corporizada designadamente no novo partido “Alternativa para a Alemanha”. Este partido, fundado em 2013, alcançou já 12,6% dos votos nas eleições federais de 2017, e segundo sondagens recentes, poderá eleger 12 deputados nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
Na Áustria, o “Partido da Liberdade”, de extrema-direita, alcançou 26% dos votos nas eleições legislativas de 2017, o que lhe permitiu ser escolhido para parceiro de coligação do “Partido Popular” liderado pelo conservador Sebastian Kurz, que nesta altura governa o país.
Na Finlândia, o partido de extrema-direita “Os Finlandeses” conseguiu 17,7% dos votos nas eleições legislativas de 2015, tornando-se a segunda força política do país.
O mesmo sucede na Dinamarca com o “Partido Popular Dinamarquês”, que ao ter alcançado 21% dos votos nas eleições legislativas de 2015, afirmou igualmente a extrema-direita como a segunda força política do país.
Ainda pelo Norte da Europa, também na Suécia a extrema-direita parece estar a crescer, tendo o “Partido dos Democratas Suecos” colhido 18% da vontade do eleitorado nas eleições legislativas do ano passado.
Na Holanda, o “Partido para a Liberdade”, frequentemente associado à extrema-direita pelo seu discurso anti-imigração, obteve 13% dos votos nas eleições legislativas de 2017.
Também na Hungria, o discurso da extrema-direita parece ter forte acolhimento no eleitorado. Nas legislativas de 2018, o “Partido Jobbik” alcançou 19% dos votos e o Primeiro-Ministro Viktor Orban, líder do partido de direita “Fidesz”, é bem conhecido pelas suas ideias claramente anti-imigração.
Daí que não seja de admirar que o Parlamento Europeu venha a ter a partir de Maio próximo uma composição bem diferente, com a presença de novas forças partidárias e designadamente de extrema-direita. A crise económica e financeira que assolou a Europa nos últimos anos, aliada a fenómenos de corrupção, bem como a crise dos refugiados e migrantes, associada a sentimentos de insegurança alimentados por diversos atentados terroristas, atacaram o crédito dos partidos tradicionais e deram azo ao aparecimento de novos partidos e movimentos radicais, designadamente de matriz populista.
Assim está a Europa. Vamos ver como ficará o Parlamento Europeu. Portugal, por ora, parece escapar a esta tendência…
Paulo Ramalho
Vereador da Economia e das Relações Internacionais da Câmara Municipal da Maia