Os últimos quatro anos foram maus. Pior mesmo, só tudo o resto.
A menos de um mês das eleições, o debate entre os principais candidatos às nossas legislativas centra-se, como nunca anteriormente, nas niquices da governação, nas minúcias da economia e na fina grosseria da demagogia. Os “elefantes” encavalitam-se revoltos na sala sem que uma qualquer alma compassiva os liberte na corrente mediática que até hoje os ignora. Assim, com um brando e ténue “olhar para o lado”, com um semblante bastante comprometido e de sorriso gemado, Portugal continuará a fazer o que até hoje tem feito. Até que uma vez mais a situação aperte, até que os dias voltem a ser penosos, até que o tão patriótico “desenrasque” se faça novamente palavra de ordem. Todos desconsideram o inevitável pois supostamente assobiar e acenar é o carreiro mais fácil.
De cofres vazios, sem pães nem rosas, urgiu em tempos chamar as instituições para dar de comer ao povo. Não foi Sócrates nem Passos quem convidou a Troika. Foram sim os anos sucessivos de desgoverno e desvario, de megalómanos e faraós, de direitos sem deveres, de receber 10 e estourar 20. Diz-nos a história recente que todas as propostas apoiadas em estímulos da procura têm levado a situações gravosas de endividamento para o país e, apesar de aparentemente milagrosas a curto prazo, infligem invariavelmente no médio e longo prazo o pior dos resultados.
Na vinda da Troika, o papel de Sócrates foi apenas o do maquinista louco com 10M de passageiros a seu cargo. Viu em 2008 a chegada da crise profunda, uma das maiores crises economias na Europa e com ela um safanão ainda maior para a esquerda democrática. Nem por isso embrandeceu, crendo que se acelerasse ainda mais o consumo e os gastos do estado o abismo desaparecia da sua frente e sumia do nosso caminho. O abismo depressa chegou e engoliu duma vez só todos aqueles Estados monstruosos, ferrugentos e glutões. Engoliu Portugal durante 4 anos e a Grécia ainda hoje anda perdida num dos muitos estômagos.
Hoje, aparentemente já ninguém se recorda dessa época. Hoje, possivelmente por culpa de um sistema que não ensina a fazer as contas dos juros, que não ensina a língua dos políticos, que não ensina a ser cidadão e que nem ensina o que é a democracia, há já quem acredite que nenhuma crise voltará, que jamais haverá falta de dinheiro. Acreditam piamente que nunca mais teremos um PM que nos leve à bancarrota enquanto diz aos quatro ventos que são só os tipos lá da Europa Nórdica e Central que têm umas regras malucas que teoricamente impedem os outros países de pedir esmola. Não será apenas fruto do acaso e da malvadez que mesmo virtualmente sem petróleo, os Alemães vivam muito bem. É fruto da disciplina, do pragmatismo, do realismo e da seriedade. Ouça-se a nossa praça política e ela negará este devaneio.
Não neguemos que deficits excessivos que aliados à falta de mecanismos transversais de política económica ajudaram vários Estados-membros a não conseguir o normal financiamento da sua economia, tendo assim de se socorrer da União e do FMI para poderem continuar a pagar salários, prestações e pensões. Não neguemos que a uma gestão cautelosa dos meios e à tentativa de balancear as contas públicas se passou a chamara aquele palavrão: austeridade. Não neguemos por fim que foi nas costas do contribuinte que caiu a responsabilidade de pagar a conta de hoje, de ontem e de tudo o que veio antes, sem que alguém detivesse uma solução “menos Syriza” para o berbicacho.
Os marxistas hoje já não conhecem Tsipras e por isso elegeram como novo paladino, o trabalhista britânico Corbyn. Fruto de desilusões amorosas passadas, António Costa e Catarina Martins estão agora a demorar um pouco mais a fazer a colagem. Em Portugal a oposição garantia que a solução Syriza dava força para lutar contra os tiranos da Europa. Daria a Merkle uma lição de humildade e a Passos umas aulas de patriotismo. A Grécia iria iluminar a sagrada via-rápida-da-esquerda do crescimento instantâneo e da prosperidade garantida. Chegados os radicais ao poder, demoraram menos de seis meses até se tornarem moderados, mas não sem antes detonarem a bomba do terceiro resgate Grego.
Não será apenas por acaso que estamos perante uma campanha que se centra em torno de dois dos programas eleitorais mais parecidos que estas eleições nos oferecem. Existe bom senso em Portugal apensar da muita ingenuidade aparente.
No meu ponto de vista é muito provável que a coligação ganhe as eleições, sem maioria absoluta. Admito, no entanto, que haja quem por outro lado acredite numa vitória socialista, igualmente sem maioria. Em qualquer um destes cenários, a indecisão será altamente penosa para o país e para tudo que de bom foi alcançado nestes últimos quatro anos.
Passos governa na época da globalização, num mundo que está constantemente ligado. Não está preso ao século XX e à imutabilidade das coisas. Quer um Estado que não se demita das suas responsabilidades, mas aceita que este já não pode garantir tudo. Passos Coelho comprovou ser um primeiro-ministro à altura de situações de emergência e de desespero enquanto que o Partido Socialista têm fugido às suas responsabilidades e promete mais do mesmo, dizendo que é desta que vai correr bem. Passos pagou pelos erros dos outros e tornou-se o Culpado Disto Tudo enquanto que o PS regozijava a cada medida menos popular que o governo era forçado a tomar.
Centre-se o foco no pós-eleições e dê-se destaque ao cenário mais provável. Faça-se então um grande debate. Tirem-se conclusões. Dê-se a maioria absoluta à coligação Portugal à Frente.
João Carlos Loureiro