1.- O livro de Armand Puig, “Jesus – Uma biografia”, publicado pela Editora Paulus, em 3.ª Edição, é de um rigor excecional. Baseado em fontes canónica e não canónicas, nos quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, na fonte Q (Quelle – “fonte”) – uma coletânea de documentos com citações de Jesus e onde alguns dos evangelistas acima foram “beber”, traz outro conjunto de documentos apócrifos, como o Evangelho de Tomé, o Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho de Pedro ou o Evangelho do Pseudo-Mateus e outros, assim como centenas de documentos daquelas épocas, alguns dos quais descobertos há pouco tempo, mesmo fontes não cristãs. Rigoroso, analisa todas as questões por mais difíceis que se colocam. Quem é Jesus de Nazaré? Onde nasceu? Como viveu? Como enfrentou a morte? A sua Ressurreição, o que se pode dizer? Puig, que é doutorado em ciências bíblicas, coloca-nos perante factos indesmentíveis, mas também interrogações qua ainda hoje temos. O que mais sensibiliza o leitor é a ousadia do escritor ao abordar sem qualquer receio os temas mais em debate e que pseudo-livros vêm “atirando achas”, para melhor vender; este não, enfrenta-os, compara e sem apresentar cognições expositivas incendiárias, verifica de acordo com todas as fontes o que poderia ter acontecido; quando não é clara e pode conduzir ao erro uma exposição, declara-o e espera que o futuro confirme com evidências a verdade. Uma verdade, assente numa certeza, porque é evidente. Mas esta Razão funciona também com a Tradição, repositório em baú de muitas certezas e com a Palavra.
2.- Os grupos religiosos presentes aquando da vida de Cristo, eram os fariseus, os saduceus e os essénios, que possuíam um valor comum: uma vontade de renovação do Judaísmo, perante os desafios das culturas helénicas e romanas. Os Fariseus, maioritariamente laicos, viviam em “fraternidades”, cumpriam a Lei, em particular os Dez Mandamentos, e todas as normas de pureza, não queriam contactos com estrangeiros, mormente os Samaritanos. Eram muito respeitados pelo povo e oligarquia política. Os Sauduceus que desapareceram após a destruição do templo, anos 70 d.C., eram um loby da classe sacerdotal – os sumos-sacerdotes -, e dos anciãos e notáveis, garantiam o poder do templo e não aceitavam a ressurreição. Os Essénios, que viviam em comunidades próximas do mar morto, eram celibatários, apesar de existirem também outros que teriam a sua família e gravitavam à volta do Mosteiro de Qumran. Observadores da Lei de forma rígida, não era esta a posição de Jesus, e consideravam-se o Israel perfeito.
3.- Neste momento de Quaresma, caminho da Páscoa, as perguntas que se fazem, normalmente, é quando nasceu e morreu Jesus. Ele nasceu em Nazaré da Galileia ou Belém da Judeia? É certo que seus pais, José e Maria, eram de Nazaré da Galileia, mas o censo, que Herodes, rei da Judeia, mandou realizar, a fim de arrecadar impostos, no ano 6/7 a.C., terá levado José e Maria a Belém da Judeia, onde se recensearam e nasceu Jesus, entre as datas de 30 de setembro e 1 de outubro. A data de 25 de dezembro foi depois, no século IV, por Constantino, designada data da celebração fixa. Jesus teria iniciado a sua atividade pública nos anos 27/28 d. C. e morreu a 7 de abril do ano 30 d.C., numa sexta-feira no calendário cristão ou no dia catorze de Nisã, véspera de Páscoa do ano 3790 desde a “criação do mundo”, de acordo com o calendário oficial judeu. Não está provada que a última ceia de Jesus tenha sido coincidente com a ceia pascal judaica, que, entretanto, a tradição cristã primitiva teria acordado.
4.- Como se vê o livro não foge às perguntas que se fazem dia a dia, no mundo hoje, assim como não deteriora as questões de fé, da filiação divina de Jesus que encarnou em Maria, mulher jovem, casada com José, viúvo, já com sete filhos, duas raparigas e cinco rapazes, irmãos de Jesus, ou meios-irmãos. Maria, segundo um evangelho apócrifo de Tomé, teria se compadecido por aquele homem bom, José, e casado com ele para lhe ser útil na criação dos filhos. Maria na sua total doação ao bem! O livro de Armand Puig constitui referência para quem, cristão ou não, gosta de saber duma investigação sobre este Jesus, que morreu um dia numa cruz, para salvar a humanidade. A não perder!
Joaquim Armindo
Doutorando em Ecologia e Saúde Ambiental
Mestre em Gestão da Qualidade
Diácono da Diocese do Porto