André Macedo tem 23 anos e está, desde 2018, a viver grande parte do seu tempo em Londres. Terminou a licenciatura em Economia na Faculdade de Economia do Porto e partiu para Lisboa para trabalhar como consultor estratégico na empresa Deloitte. Já na capital, foi selecionado para integrar uma equipa na metrópole britânica, vivendo, agora com um pé em cada cidade. O Notícias Maia foi conhecer este “Maiato pelo Mundo”.
Notícias Maia (NM): Como é que começa esta aventura de trabalhar em Londres?
André Macedo (AM): Eu trabalhava na Deloitte, em Lisboa, há pouco mais de 9 meses e soube que ia passar a integrar um projeto que está a decorrer no Reino Unido. Estou lá semanalmente há perto de um ano e meio. É uma aventura que começa por um acaso mesmo, porque fui destacado para esse projeto.
NM: E qual foi a tua reação ao saber que irias trabalhar fora do país?
AM: Foi incrível. Eu nem sabia que em Portugal estávamos a fazer projetos na Europa e fiquei muito satisfeito quando descobri que existiam. Quando surgiu a oportunidade de ir para Londres, que é uma capital do mundo, fiquei muito expectante. Viver e trabalhar lá, tão novo, é uma grande oportunidade.
NM: Sentes que este projeto te está a dar alguma oportunidade que Portugal não te daria?
AM: Sim, desde logo trabalho com pessoas de várias culturas diferentes. Depois trabalho em regime inglês, isto é, entro mais cedo e saio mais cedo. Acabamos por sentir que somos mais eficientes. Respeita-se muito os horários lá, como horários de reuniões, por exemplo. Só por aí, tens uma dinâmica muito diferente da portuguesa. Além disso trabalho com pessoas de origens muito diferentes da minha! Lá são todos muito diferentes, ninguém veio do mesmo sítio. E é engraçado como consegues fazer mais quando existe multiculturalidade na tua equipa.
NM: Viver nessa multiculturalidade acaba por contribuir para a tua vida?
AM: Muito! E é muito engraçado, sabes? Porque toda a gente tem uma história diferente. Todas elas vieram de origens e realidades muito contrastantes. Ver como elas agem e reagem a diferentes situações é muito interessante. Os hábitos são diferentes, como o simples ato de cumprimentar! Nós, portugueses, geralmente damos os dois beijinhos. Os ingleses têm mais o hábito de apertar a mão ou o abraço com as pessoas mais íntimas. Os holandeses dão 3 beijos. É muito engraçado ver como é tudo tão diferente.
NM: E para além de lidares com essa multiculturalidade imagino que também convivas com ingleses. Como é o povo inglês? Frio, como costuma ser caracterizado?
AM: Curiosamente, não. As pessoas realmente costumam dizer que os ingleses são muito frios mas eu não acho nada. Muitas vezes, no escritório, quando nos cruzamos com ingleses que não conhecemos de lado nenhum, eles têm por hábito perguntar-nos como foi o fim de semana ou se estamos bem. Eles fazem conversa com desconhecidos e isso fez-me alguma confusão no início. Perguntam muito e querem conhecer as pessoas. Nesse aspeto, foi uma surpresa para mim. Acho que eles são muito diferentes da ideia que temos em Portugal. São muito educados, aí é mesmo “muito à inglesa” (risos). Acho que essa frieza dos ingleses é confundia com o respeito que eles têm pelo nosso espaço pessoal.
NM: Já te sentiste discriminado por seres estrangeiro lá? Ou isso não existe em Londres?
AM: Nunca senti. Eles costumam dizer que são um “melting pot”, uma espécie de caldeirão de culturas e realmente é isso que se sente. Claro que existe o típico inglês mas acaba por estar disperso. Há pessoas que são nascidas e criadas em Inglaterra mas têm raízes asiáticas ou africanas. Não consegues distinguir e acaba por ser mesmo esse tal “melting pot”,
NM: E trabalhado em Inglaterra, já sentiste consequências do Brexit no teu dia-a-dia?
AM: Sentes no sentido de haver muita incerteza. Com o Brexit, na prática, consegues fazer tudo igual em termos de trabalho, os serviços funcionam todos normalmente. O problema é quando está a chegar a data do Brexit e as pessoas não sabem bem como será o futuro. Eu viajo todas as semanas para Londres e há sempre aquela parte de protocolos em aeroportos. Não sei se vou precisar de passaporte ou se o cartão de cidadão vai continuar a servir. Isso ainda não está muito claro, apesar de que a mensagem que nos têm passado é que haverá um período de transição. Mas na prática, não se tem bem noção.
NM: Sentes os ataques terroristas que aconteceram em Londres afetaram a segurança que as pessoas sentem lá?
AM: Primeiro, apesar de tudo, eu acho que Londres é uma cidade segura. Eu nunca senti insegurança. Obviamente tenho cuidados como não andar sozinho à noite, mas eu acho que é bastante segura. Os atentados existem e aconteceram em Inglaterra porque trata-se de uma potência mundial. Eu acho que as pessoas têm os cuidados normais e não se deixaram afetar pelo medo do terrorismo. Em Londres é muito comum utilizar os transportes públicos, pessoas com mais ou menos dinheiro frequentam o metro, e isso não mudou. Acho que as pessoas não andam com medo lá.
NM: Para terminar, como é que avalias para já a tua experiência em Londres?
AM: Eu gosto muito de lá estar e, em princípio, vou continuar lá por mais um ano. Parece que estamos num filme quando vemos os autocarros, os táxis ou o palácio de Buckingham com a rainha. É uma cidade muito cosmopolita e com muita vida! Existe uma grande diferença entre conhecer Londres como turista ou como pessoa que vive lá. Quando começas a habituar-te, começas a descobrir recantos e realidades que, como turista, não percebes. É uma cidade da qual gosto muito.