Sofia Pereira tem 29 anos e vive desde 2013 em Londres. Maiata de raiz, partiu para terras britânicas à procura de uma carreira profissional. Abraçou uma oportunidade de trabalho no Guy’s and St Thomas Hospital e é por lá que continua como técnica de medicina nuclear.
Fomos conhecer esta Maiata pelo Mundo que, apesar de não gostar do tempo quase sempre nublado, admite gostar muito da cidade de Londres pela multiculturalidade que por lá encontra.
Notícias Maia (NM): Como começa a tua aventura em Londres?
Sofia Pereira (SP): Depois de terminar o curso comecei a procurar trabalho fora de Portugal. Sabia que em Portugal as oportunidades na minha área não eram as melhores e que era muito difícil arranjar trabalho. Surgiu esta oportunidade e felizmente fui escolhida.
NM: Quais foram as maiores dificuldades que sentiste quando chegaste a um novo país para trabalhar?
SP: Acho que foi mesmo a adaptação, porque era tudo novo. Era preciso arranjar casa e tratar das papeladas todas. Na altura tive a ajuda da minha mãe que me ajudou a procurar casa. Felizmente correu tudo bem. Foi mesmo essa a minha maior dificuldade. A língua não era uma coisa que me fizesse confusão, porque eu já falava inglês.
NM: Em relação às pessoas, reconheces a tal frieza nos britânicos?
SP: Não são tão calorosos como nós, isso é certo. Eles são educados mas quase a um nível de não querer saber. Se não lhes fores próxima, eles também não investem nessa aproximação nem conversam muito nesse sentido.
NM: Mas acredito que, além dos ingleses, convivas com pessoas de outras culturas. Sentes essa diversidade no dia-a-dia?
SP: Completamente! Eu trabalho em Londres mas a verdade é que são poucas as pessoas inglesas com as quais convivo profissionalmente. Trabalho com pessoas das Filipinas, da Índia, da Lituânia e, lá está, britânicas são poucas. Esta diversidade traz muitas vantagens porque conheces pessoas e culturas muito diferentes. E é aí que acaba por estar o teu calor. É uma cidade muito multicultural e, em qualquer lado, tens um contacto com um país diferente. É uma das coisas que mais gosto em Londres!
NM: E o que é que menos gostas?
SP: Não gosto que às vezes seja muito impessoal. Tens tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo que, em alguns momentos, te sentes sem saber para onde te virar. Conheces tantas pessoas e, ainda assim, sentes-te um bocado sozinha. Às vezes é essa a sensação. É tanta coisa e, ao mesmo tempo, tão pouca. E o tempo, claro. Não há praia e o tempo é quase sempre cinzento. Eu não sou deste tempo (risos).
NM: Apesar de não teres exercido a profissão em Portugal, quais pensas serem as maiores dificuldades em exercer no Reino Unido e em Portugal?
SP: A grande diferença que sinto é que em Portugal não há grande progressão de carreira. Tu começas numa posição e a probabilidade de vires a crescer nessa posição é muito pequena. És capaz de começar e acabar a carreira no mesmo sítio. Aqui em Londres há maior progressão e tens um sistema que te permite teres uma evolução em termos académicos e monetários. E isso é um grande incentivo!
NM: Nesta altura de pandemia, tendo em conta que trabalhas num hospital, como é que viveste toda esta evolução do vírus?
SP: Foi dos momentos mais stressantes da minha vida profissional. Foi muito complicado. Eu nunca parei de trabalhar e o hospital é bastante central e tem uma unidade de doenças infeciosas, como é o caso da Covid-19. A minha área, por ser de oncologia, não podia parar. Os doentes precisam dos exames para continuar com tratamentos. Toda essa fase de adaptação foi complicada porque nós temos de nos proteger para conseguir proteger os nossos doentes.
NM: Acredito que nesta fase tenha sido ainda mais difícil estar longe da tua família.
SP: Foi muito difícil. Eu sou uma pessoa muito chegada à minha família e foi muito complicado não poder estar com eles durante vários meses. Estar afastada de Portugal nesta fase da pandemia foi emocionalmente esgotante.
NM: Na tua opinião enquanto residente, como é que achas que Inglaterra lidou com tudo isto?
SP: Acho que se este “lock down” tivesse acontecido mais cedo teríamos tido menos casos. Principalmente em Londres, onde chegam milhares e milhares de pessoas todos os dias de todas as partes do mundo. Agora as coisas, aos poucos, já estão a voltar ao normal. Claro que sempre com as devidas precauções.
NM: Para terminar, pensas um dia voltar a viver em Portugal?
SP: Gostava muito. E se há coisa que me fez pensar ainda mais sobre isso, foi esta pandemia. Estar restrita aqui e não poder estar com a minha família fez-me pensar muito em voltar para Portugal. Quando e como vai acontecer, só o futuro o dirá, mas é uma coisa que está nos meus planos.