Soraia Santos tem 29 anos e vive em Madrid desde 2017. Estudou Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e, depois de alguns anos e diferentes empregos em Portugal, aventurou-se em Espanha.
Atualmente trabalha na área da indústria farmacêutica e depois de meio ano sem poder viajar para o nosso país, prepara-se para visitar a família em Portugal. O NOTÍCIAS MAIA conversou com esta Maiata pelo Mundo para compreender como foram vividos estes três anos em Madrid.
Notícias Maia (NM): Como é que começa a tua experiência fora de Portugal?
Soraia Santos (SS): Começa com uma oportunidade de emprego em 2017. Eu estava em Portugal sem trabalho e como o meu namorado, na altura, vivia em Madrid, eu estava a enviar currículos para Portugal, mas também para Madrid. Acabei por ter uma proposta lá e assim foi.
NM: Foste para Madrid inicialmente para trabalhar em farmácia. Nesse atendimento ao público, alguma vez te sentiste discriminada por não dominares tão bem o espanhol?
SS: Não, nunca senti isso. Senti que, no início, as pessoas percebiam que eu não era espanhola e, no máximo, se eu não inspirasse alguma confiança, era mais pela falta de experiência. Depois, como em Madrid há sempre tanta gente estrangeira a trabalhar, acho que esse preconceito não existe tanto. E como a cultura aqui é muito parecida com a de Portugal, ajuda a que não exista tanta diferença e estranheza. Sempre tive facilidade em fazer amigos, por exemplo.
NM: Em relação à cultura ser parecida, nós somos considerados “países irmãos”. Achas que existe essa similaridade nos comportamentos?
SS: Nós somos muito parecidos na maior parte das coisas. Por exemplo, a cultura familiar, a cultura de nos juntarmos à mesa e ficarmos a tarde toda a conversar e também o clima. Mas também temos as nossas diferenças. Eu confirmei que o estereótipo de que “Espanha é festa” é real (risos), eles saem bem mais. Depois, acho que eles são mais reivindicativos, a nível de direitos laborais, protestam mais e, às vezes, por menos. Já ouvi alguns comentários de espanhóis que vão a Portugal e nos consideram mais trabalhadores. Eu acho que tem que ver com isso de não protestarmos tanto e de pensarmos que o importante é trabalhar.
NM: De que é que mais gostas nessa cidade?
SS: Gosto muito do facto de Madrid oferecer todas as possibilidades do mundo. Se quiseres comprar uma camisola às quatro da manhã deves encontrar um sítio aberto. Nunca te aborreces a esse nível, tens uma oferta de ócio e de cultura bastante grande. No meu caso em particular, há mais oportunidades a nível profissional. Apesar do nível de vida ser mais alto, na minha profissão, também me compensa a nível salarial. Depois, gosto muito do ambiente e do espírito das pessoas! É muito fácil fazer amigos.
NM: Como é que os espanhóis nos veem? O que é que acham de nós?
SS: Acho que nos associam um bocadinho aos galegos, que são um povo um bocadinho mais triste e pessimista. Mas, no geral, acho que o que pensam é positivo e muito parecido com o que eles são também. É a cultura parecida, que te falava, e mais ou menos o mesmo estilo de vida. Costumo dizer que é tudo igual, mas em vez de ires tomar um café com um amigo, bebes uma cerveja (risos).
NM: Falando um pouco da atualidade. Como é que que viveste estes tempos do aparecimento da pandemia?
SS: Pois, Madrid foi um bocadinho o epicentro. Eu tenho a sorte de poder estar em teletrabalho e felizmente nunca fiquei sem nada para fazer. Mas toda a situação foi bastante assustadora. Não só pela situação sanitária em si, mas também pela incerteza de não saber o que ia acontecer a nível de trabalho. Não sabíamos sequer quando poderíamos voltar a ver os nossos amigos e família. Numa situação normal, se eu estivesse seis meses sem ver a minha família, ia ser difícil, mas seria mais fácil do que não os ver durante esta pandemia. Tenho muito mais vontade e necessidade de estar com eles agora. Quando as coisas não estão bem tens mais necessidade de estar perto dos teus.
NM: O que achaste da forma como Espanha lidou com a pandemia?
SS: Eu não percebo muito de política, mas, pelo exemplo que já vinha de Itália, acho que Espanha poderia ter sido mais rápida a agir. Em Portugal, por exemplo, a situação foi mais controlada nesse sentido. Dá-me a sensação de que os portugueses acarretaram melhor as indicações do Governo. Aqui as pessoas cumpriram mais quando foi obrigatório por lei.
NM: E agora vais poder vir a Portugal. De que é que sentes mais falta?
SS: Das pessoas, sem dúvida nenhuma. Depois talvez da comida. Aqui come-se bem, mas tenho saudade da gastronomia portuguesa. E do Porto, enquanto cidade. Já sabemos como são as pessoas do Porto, a nível do sentimento pela cidade, somos muito ligados.
NM: Como é que avalias a tua experiência em Madrid? Tencionas continuar a viver aí?
SS: Para já, sim. Tive oportunidades profissionais que seriam difíceis de ter em Portugal e, nesse aspeto, a minha intenção é continuar. E, como também consegui criar aqui o meu núcleo, os meus amigos e o meu cantinho, de momento estou bem. Madrid não está assim tão longe do Porto e, num ano normal, com a facilidade que temos agora, consigo ir a Portugal várias vezes. Claro que não é o mesmo e se pudesse juntar os dois sítios num só seria perfeito, mas já me começo a habituar.