Portugal foi até há dias uma democracia excecional, não pela sua competência ou pelos seus resultados, mas pela sua habilidade em fugir à regra dos nossos pares democráticos. Mal ou bem, conseguimos passar ao lado dos ismos que sobejamente afetam o mundo ocidental e desenvolvido. Tradicionalmente, apenas a extrema-esquerda estava representada no hemiciclo, sob a égide do marxismo-leninismo assente em ideias claras, ideologicamente estável e com rumo concreto e navegação previsível. Mesmo quem não aprova a existência de um partido comunista, da mesma forma que reprova um partido fascista, claramente compreende que os radicalismos são bem piores.
Somos tradicionalmente um país tolerante e respeitador da liberdade dos seus cidadãos, com a sublime característica de sermos avessos à mudança. Todos sabemos que no nosso recanto tudo demora o seu belo tempo mas caminhamos agora numa direção desconhecida, fruto do enfraquecimento do centro democrático, resultando como não podia deixar de ser na polarização dos discursos. Sem dúvida que é curioso e contranatura para a nossa maneira de ser que, quem tenta mudar mentalidades, acabe por se impor de forma autoritária e contrariando esta tradição, sejam por exemplo as feministas das quotas ou as minorias do racismo, com os seus discursos inflamados e desejosos de guerra social.
A nossa democracia tem como principal fundamento o respeito pela dignidade da pessoa humana e está inevitavelmente subordinada à vontade da maioria. Assim sendo, porque é que se há de curvar agora perante uma ditadura das minorias, especialmente das que importam chavões do estrangeiro e se apelidam de antifascistas, antirracistas e feministas radicais? Acabo a pensar que todos os que querem mudar mentalidades deveriam começar por mudar a sua, lutando primeiramente por uma sociedade mais coesa, mais capacitada e mais próspera, onde se valorize mais o que nos une do que o que nos separa.
Chegando à pergunta que justifica esta reflexão, queremos ser mais iguais ou mais livres? Porventura a dicotomia esquerda/direita faz cada vez menos sentido e hoje, mais do que nunca, o combate ideológico é entre a igualdade e a liberdade. Não deve haver lugar ao radicalismo nem ao extremismo.
Num país que pretende que todos sejamos iguais, por exemplo através da redistribuição da riqueza, chegamos ao ponto em que, ao mesmo tempo, temos os quartos impostos mais altos para rendimentos mais elevados e somos o terceiro país com mais riqueza em paraísos fiscais. Note-se que para um rendimento bruto de €600, o trabalhador fica com €526 líquidos e o estado recebe €216. Já no caso de um colaborador que receba €1900 líquidos, como resultado do seu trabalho, o estado recebe mais do que o próprio trabalhador.
Este não é o caminho certo. Acredito que o caminho a seguir é o da livre iniciativa e da livre circulação de pessoas, capitais, bens e serviços. Acima de tudo acredito numa ideia de mais e melhor Europa, onde os valores fundamentais são a liberdade de escolha, de opinião e de expressão. Acredito num país onde haja liberdade para ousar ser mais e ser melhor, liberto da força opressora de um estado insuficiente e incapaz, tradicionalmente fraco com os fortes e forte com os fracos.
Não acredito no extremismo ou no radicalismo. Acima de tudo não acredito na estagnação e no totalitarismo igualitário, em que ninguém produz ou trabalha, mas em que todos aspiram ao mesmo quinhão.
Haja liberdade.