Quem o diz é o Clube UNESCO da Maia, no livro “A mulher da Maia — da Maia à urbe portuense”, editado em setembro de 2018.
O livro tem como objetivo conservar o património cultural da Maia e foca-se na igualdade de género, em particular, no lugar que a mulher maiata ocupava nos finais do século XIX e início do século XX.
Segundo a investigação, a mulher maiata desempenhava a profissão de pinheireira, que exigia grande destreza física, e as calças do marido. A pinheireira trepava as árvores para apanhar as pinhas e não o conseguia fazer de saias, usava assim, as calças do marido.
“Mesmo ao lado de Moreira, em Vila Nova da Telha, proliferavam trapeiras ou farrapeiras e as pinheireiras, raparigas destemidas e corajosas, trepavam habilmente os pinheiros bravos das bouças das redondezas para apanharem pinhas secas para vender nas casas ricas para uso das lareiras e nas grandes cozinhas”, diz-nos Armando Mário Moreira Tavares, no número 1 da Revista da Maia, publicação de iniciativa municipal, em 2016.
Continua revelando que a profissão era de tal forma exigente, que “muitas pinheireiras ficaram irremediavelmente inutilizadas para sempre, resultado final das monumentais quedas do cimo dos pinheiros bravos, todo este sofrimento para angariar alguns centavos para trocar por um naco de boroa e uns pequenos couros com gordura”.
As mulheres maiatas, os adolescentes e menores “colaboravam arduamente” nos trabalhos da terra, “lado a lado” com os homens, apesar de não constarem nos cardernos de recenseamento dos finais do século XIX, indica Armando Tavares, na mesma publicação.
As mulheres foram assim, “mão-de-obra muito importante na sociedade Maiata”, trabalhando ao lado dos homens e sobre quem “pesava a organização as suas casas, tomando para si a responsabilidade acrescida quando o marido embarcava para além mar rumo ao Brasil”.