Um grupo de cidadãos decidiu apresentar um livro sobre “Identidade e Família”, curiosamente com textos de algumas mulheres. Este grupo de qual fazem parte membros do “Movimento Acção Ética”, que inexplicavelmente argumentam que alguns trabalhos são específicos da mulher, como ser “dona de casa” ou “cuidar dos filhos”. É natural que em democracia apareçam os “iluminados do passado”, a retirarem aos homens a capacidade de fazer alguns trabalhos. Os proponentes não sabem, ou não querem saber, o que é a ética, nunca esta foi contra a dignidade humana, o que propõem não é ético, nem consta da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, aliás é contra esta e não espelhando a nossa Constituição que os organizadores do colóquio e do movimento, acima citado, querem fazer uma frente unida. Ora, ética é “parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplina ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social”. O movimento referido além de não conhecer a normalização ortográfica, ainda escreve “acção”, desconhece completamente o que é a “ética” e muito menos a “moral”. Curioso que não tem qualquer conceção da sociedade em que vivemos e que é responsável pela “essência das normas, valores, prescrições e exortações” da “realidade social”. Orientar “o comportamento humano” significa o respeito pelos atores em realidades económicas, culturais e sociais diferentes daquelas que o movimento exorta. Meter as mulheres em casa e que levem os baús à cabeça para os maridos poderem almoçar, já foi! Ao sair do trabalho os homens terem o direito de ir “comer bolinhos de bacalhau e beber uma pinga”, não é norma ética, nem moral. Os organizadores do livro e o tal “movimento”, não respeitam a “essência das normas”, nem dos “valores” atuais e ancestrais e não existe hoje as “prescrições e exortações”, para falamos de uma família com “bafo salazarento”, onde o pai trabalha, a mãe fica em casa a cuidar dos filhos, a limpar a casa e a fazer o jantar e os filhos e a mãe estão sedentos da chegado do pai, para o abraçar. Quando há eleições o pai arranja-se logo pela manhã e vai votar, a mulher fica em casa – não pode votar -, a cuidar dos filhos. São autênticos postais do Estado Novo.
Se fosse assim as senhoras deputadas que o defendem teriam de sair do parlamento e ir lavar a roupa, limpar o pó e varrer a casa. Isto inclui também a senhora deputada faladora e venturista que defende tal. Mas a questão é demais complicada, eles não compreendem o papel da mulher na sociedade e no trabalho, o seu conceito de família é desfasado e ofendem não só a dignidade da mulher, mas também do homem, ao afirmarem que este não é capaz de dar todos os sentimentos que a mulher.
Vêm propor um “subsidio” para as mulheres por ficarem em casa, ora isso é ignóbil. Existe hoje um conjunto de mulheres que recebem um subsídio de velhice – parco, mas é verdade -, e, curiosamente, quem fala em “subsídios”, são os mesmos que estão contra este subsídio, porque as pessoas não trabalharam. No passado era assim a mulher ficava em casa e o homem ia trabalhar, pelo que é de toda a justiça a atribuição de um valor mensal. Mas tal acabou e quem o quiser ressuscitar, está a sabotar as atribuições das mulheres e o seu papel como seres humanos, criados por Deus. Só se compreende quando a reforma das mulheres é miserável.
Não penso que este movimento e o que está escrito no livro sejam verdadeiramente o que as mulheres do meu país querem. A família é outra coisa, existem famílias de vários modelos, assim foram constituídas através dos tempos. A homossexualidade de todos os tipos é uma grande e verdadeira certeza, quem a quiser obstaculizar está enganado, não é uma doença tratável, mas uma forma de vida perfeitamente normal.
Como diz a senhora deputada “venturista” a família é um pai, uma mãe, e filhos, e isso seria a “normalidade”. Mas não é assim senhora deputada a família é constituída por várias pessoas do mesmo ou de outro género, com filhos ou não, o que não é “ideologia”, mas dignidade das mulheres e dos homens.
Joaquim Armindo
Doutor em Ecologia e Saúde AmbientalContinua