O primeiro Mês da Arquitetura da Maia (MAM) arranca a 09 de março e é decicado a João Álvaro Rocha. Esta iniciativa municipal pretende repetir-se anualmente para “expor, discutir, refletir e revisitar a arquitetura da cidade”.
“Julgo que a Maia percebeu que tinha um espólio ligado à arquitetura que merecia ser revisitado e o objetivo é colocar anualmente em cartaz um arquiteto com obra e nome ligados à Maia”, descreveu a comissária Andreia Garcia, sobre esta iniciativa da Câmara Municipal e do Fórum Maia, à Agência Lusa.
O MAM’18 incidirá sobre João Álvaro Rocha (1959-2014) e “sobre uma obra de mais de 30 anos muito intensa, que está dispersa por um vasto território geográfico, inclusivamente fora de Portugal, mas com maior incidência na Maia”, acrescentou, à Lusa, Andreia Garcia, considerando “importante falar de um arquiteto que deixou tanta obra construída”. “Tanto a exposição como as visitas guiadas como a conferência são momentos de programação que vão incidir na dualidade o arquiteto e a arquitetura, o homem e a obra feita”, descreveu Andreia Garcia.
Com entrada livre, o primeiro momento do MAM está agendado para 09 de março, às 21:30, no Fórum da Maia, seguindo-se uma série de visitas que culminam numa exposição que segue uma ordem cronológica.
O périplo começa com a primeira casa construída por João Álvaro Rocha na Maia, uma casa em Silva Escura que data de 1985. Seguem-se três casas na zona da Várzea, sendo que a denominada “Várzea 1” é do próprio arquiteto, um espaço desenhado em conjunto com a esposa, também ela arquiteta.
Andreia Garcia destacou que será possível visitar alguns dos programas especiais de realojamento local, nomeadamente os conjuntos habitacionais de Vila Nova de Telha, Vermoim II e Gemunde. “São três obras com cariz mais social. Essa é também uma grande vertente da obra do arquiteto João [Álvaro Rocha], assim como a presença do traço e da visão dele em equipamentos públicos”, disse a comissária, referindo-se por exemplo ao Parque de Lazer de Moutidos ou à Escola de Educação Ambiental, localizada no Parque da Quinta da Gruta.
A também professora na Universidade da Beira Interior e na Universidade do Minho acrescentou o “enfoque que será dado a algumas estações do Metro do Porto, desenvolvidas por João Álvaro Rocha”, e apontou que a exposição inclui desenhos, maquetas, esquissos, desenhos técnicos e fotografias da autoria de Luís Ferreira Alves, fotógrafo que documentou e inventariou toda a obra deste arquiteto. “Não é possível revisitar todo o espólio porque é imenso. O arquiteto deixou tudo muitíssimo bem catalogado. A linha curatorial incidiu na obra construída e não só na obra projetada, e tentando ser o mais abrangente possível, olhando para alguma contemporaneidade”, explicou Andreia Garcia.
A componente pessoal de Álvaro Rocha ou a relação com os arquitetos que o rodeavam, bem como o seu percurso académico e prática do ensino, também estarão presentes neste primeiro MAM. Neste sentido, a comissária revelou alguns dos pormenores relacionados com a dimensão humana da exposição, como, por exemplo, que no momento da cronologia que reflete o nascimento do arquiteto, será dado a conhecer o quadro que pai de João Álvaro Rocha pintou no dia em que este nasceu.
“Qualquer cidadão entende a exposição porque não é estritamente para um público especializado. É importante que todo o público consiga entrar, dialogar e levar um bocadinho para casa”, concluiu Andreia Garcia.
Centro Documental João Álvaro Rocha
Já em janeiro passado foi apresentado o Centro Documental João Álvaro Rocha, sediado precisamente no gabinete do arquiteto, após o Município da Maia e a família terem assinado um protocolo de cooperação. Este centro Documental concentra todo o trabalho produzido pelo arquiteto, de forma a poder ser consultado e consequentemente divulgado, ficando aberto a escolas, pretendendo assim fomentar o debate sobre o território e a arquitetura.
João Álvaro Rocha, falecido em 2014, é um dos mais referenciados arquitetos portugueses, tendo desenvolvido a maior parte do seu trabalho na Área Metropolitana do Porto. Em 2001 sediou o seu gabinete de arquitetura, projetado por Eduardo Souto de Moura, na Maia.
Foi o arquitecto dos projectos de habitação social do Lugar do Outeiro, em 1999 e da Rua da Bajouca em 2001, na Maia. Foi também, no espaço do município, autor de três estações do Metro do Porto situadas na Maia e o responsável pela renovação do palacete do Parque Urbano da Quinta da Gruta, em 2001.
Foi também um académico, tendo iniciado a atividade docente em 1988/89, no Curso de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto. Desde 1990 até 2001 foi professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, tendo leccionado em diversas instituições de França, Espanha, Estados Unidos da América, Itália e França.
Era também Professor Associado na Escola Técnica Superior de Arquitectura da Universidade de Navarra – Pamplona (Espanha) e Professor Convidado da Università degli Studi di Cagliari (Itália).