Diogo Guimarães tem 31 anos e vive na Polónia desde 2015. Estudou Comunicação Empresarial no ISCAP e em 2013 já tinha saído de Portugal para agarrar uma oportunidade de emprego na Hungria. Anos depois, e principalmente por motivações pessoais, mudou-se para a Polónia e trabalha agora numa empresa de Web Analytics.
O NOTÍCIAS MAIA foi conhecer este Maiato pelo Mundo.
Notícias Maia (NM): Como começa a tua aventura no estrangeiro?
Diogo Guimarães (DG): Começa por uma motivação pessoal porque a minha atual esposa é polaca. Conhecia-a quando estava a viver na Hungria e decidimos vir para cá, não só por razões pessoais, mas também porque tive uma boa oportunidade de trabalho aqui. Essencialmente foi isto!
NM: Quais foram as tuas primeiras impressões dos primeiros tempos em que te mudaste para a Polónia?
DG: Eu já tinha estado na Polónia, nas cidades mais turísticas, como Cracóvia e Zakopane, que é uma zona de montanhas. Quando me mudei para cá fui para uma cidade não muito grande, com cerca de 100 mil habitantes, que fica quase na fronteira com a Ucrânia. Notei uma diferença logo considerável porque estava em Budapeste, uma cidade com 2 milhões de pessoas. As primeiras impressões foram que a zona não era muito cosmopolita e que não existiam muitos estrangeiros. Na verdade, de estrangeiros, éramos quase apenas os que trabalhavam na empresa onde eu estava.
NM: Mais tradicional?
DG: Pode dizer-se que sim. No sentido em que maior parte da população é polaca e tem toda uma tradição de igreja. E também não estão muito habituados a estrangeiros.
NM: Conseguirias enumerar parecenças entre os portugueses e os polacos a nível cultural?
DG: Temos duas coisas que eu diria serem muito parecidas. Acho que as duas culturas gostam muito de reclamar. Queixar-se de alguma coisa que não está bem. Um aspeto engraçado é que os polacos não nos acham parecidos com espanhóis, italianos, nem brasileiros e têm uma ideia menos barulhenta de nós. Depois acho que somos parecidos por são dois países bastante religiosos no geral.
NM: O que é que vês na Polónia que não é usual em Portugal?
DG: Acho que há um respeito pelo que é público que normalmente não se vê em Portugal. Aqui praticamente não vês incêndios, independentemente de termos uma geografia e um clima diferentes, e isso deriva muito do cuidado que as pessoas têm por tudo o que seja floresta e pela regulamentação nesse aspeto. Não vais encontrar aqui parques infantis ou paragens de autocarro vandalizados. Acho que aqui as pessoas estão muito orientadas em trabalhar o máximo que puderem para juntar dinheiro e terem a sua casa onde possam fazer um churrasco (risos). É muito engraçado que aqui é muito comum ver pessoas a fazerem churrascos mesmo em parques públicos ou junto do rio.
NM: Neste período de pandemia, como foi a resposta da Polónia?
DG: Foi muito similar à de Portugal. No sentido em que também se fecharam fronteiras e se estabeleceram restrições na quantidade de pessoas que podiam estar em certos locais. Fecharam-se lojas que não fossem essenciais, escolas, universidades, nisso foi similar. O que eu acho que a Polónia deveria ter feito como Portugal era arranjar estratégias para que os profissionais de serviços essenciais tivessem onde deixar os seus filhos. Aqui foi mais radical nesse sentido.
NM: Desde que vives na Polónia, em algum momento te sentiste discriminado?
DG: Diria que existe alguma discriminação mas não parte de pessoas inteligentes. Em determinados contextos tens de pensar e perceber o porquê da pessoa estar a ser inconveniente e a dizer-te alguma coisa mais racista. Normalmente envolve álcool, ou parte de claques de futebol mais extremistas. Já me aconteceu com pessoas na rua mas, como te disse, partiu de pessoas que não merecem importância alguma. Não considero um país racista mas acho que não estão tão habituados a estrangeiros como nós. Em Portugal estamos habituados e também temos a cultura de imigrar. Estamos mais preparados para a multiculturalidade. Os polacos, apesar de terem um histórico forte de imigração, às vezes têm dois pesos e duas medidas. Mas é residual.
NM: Imaginas-te a continuar a viver fora de Portugal no futuro?
DG: Para já, sim. Não me imagino a mudar de país. Gosto da qualidade de vida que tenho cá, gosto do país no geral e também já tenho um filho, portanto, torna sempre mais complicado mudar para outro sítio que não seja Portugal. É mais uma questão de quanto tempo ficarei aqui até voltar a Portugal. Mais cedo ou mais tarde quero voltar a Portugal. Gostava de voltar porque, apesar de tudo, é onde tenho grande parte da minha família, os meus amigos e onde me sentiria mais confortável.