As contingências troikianas levaram a nossa nação a atitudes nunca antes calculadas. De um momento para o outro, passamos a ter de reconhecer medidas que até nos pareciam inconstitucionais como medidas necessárias. Levou-nos a que considerássemos a nossa constituição retrógrada, e levou-nos, inclusivamente, a repensar os valores basais da nossa democracia.
O cinto dos portugueses encontrou mais um buraco que se julgava impossível de encontrar, as carteiras nunca andaram tão vazias e de repente os Portugueses perceberam e redefiniram o significado de poupar.
Algumas (poucas) importantes reformas foram feitas, muito mais à custa da assertividade dos privados do que propriamente de uma visão estatal sustentada.
Frase dispensáveis como “ Ai aguenta, aguenta”, revelava aqui ou ali uma insensibilidade social nunca vista, ainda por cima vindo de gente com responsabilidade acrescida neste pesadelo social que se transformou a vida nacional.
O nosso primeiro-ministro transformou-se numa espécie de super herói anti-politico, não se ri, não dá boas noticias, as eleições não interessam, enfim… parece que a sua única obstinação é salvar as lides Nacionais. Espero que, para o bem comum, as suas opiniões, decisões e a sua reconhecida obstinação tenham sido acertadas, até porque o seu vice-primeiro-ministro que é “irrevogável” mantém-se confortavelmente a fazer politica ou politiquice… por favor escolha o leitor o que lhe convir, desenhando fronteiras ideológico partidárias nas decisões difíceis.
Entre suspiros de dor e de alivio, o tuga lá se vai “aguentando”, e se nalgumas reformas não posso dar ma opinião fundada por desconhecimento ou ignorância sobre o tema, a verdade é que na saúde, essas reformas estão, em minha opinião, aquém do desejado.
O nosso ministro da saúde, a quem sinceramente lhe reconheço uma inteligência superior, pois foi dos poucos que conseguiu por alguma ordem nas contas sem haver um reboliço exagerado nas principais associações e ordens com quem negociou, a verdade é que a sua estratégia passou muito por um navegar à vista com o navio sem nunca construir uma solução duradoira. Nem tão pouco me parece ter havido essa preocupação… ou seja, foi cortando, sem garantir qualidade, garantindo isso sim uma métrica calculista de ajustamento ao orçamento.
Contudo, sem se ter apercebido foi também cortando na excelência do nosso SNS, com reflexos graves e notórios – temos vindo a cair lugares de excelência na OMS, parecendo que os ouvidos são algo “moucos” a quem tanto grita soluções, sendo esses sim especialistas no sector.
Tenho a certeza que com tanta restrição, no final do seu mandato as contas estarão seguras (será que sim?), mas o SNS deixou de ter um rumo, deixou de ter um objectivo, e por isso, temo que facilmente se desvirtue naquilo que são os seus valores, e naquilo que orgulhava a nação: a sua excelência.
Há outros caminhos, há outras possibilidades de sucesso, haja vontade de ser ouvido, de ser reconhecido e humildade para se aceitar opiniões daqueles que sabem.
Ricardo Filipe Oliveira
Médico
Mestre Eng. Biomédica (FEUP)
Lic. Neurofisiologia (UP)
Não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.