O único fotojornalista português premiado nesta 64ª edição da World Press Photo esteve, esta quarta-feira, 17 de novembro, na Maia, para uma conversa sobre a sua experiência enquanto fotojornalista e sobre o impacto que este prémio tiveram na forma como encara o seu trabalho. A conversa foi aberta à comunidade, mas ainda antes disso, Nuno André Ferreira falou em exclusivo ao NOTÍCIAS MAIA.
Numa rápida entrevista, o fotojornalista, natural de Leiria, explica o momento em que decide tirar a fotografia e conta como a sorte só funciona quando aliada à persistência e ao trabalho.
Notícias Maia (NM): Como é que se percebe que uma fotografia vai chegar tão longe e ser premiada no maior concurso de fotojornalismo do mundo?
Nuno André Ferreira (NAF): Inicialmente não se percebe, eu não percebi. Fiz esta imagem como faço outras, mas depois acabei por perceber que a fotografia tinha ganho um alcance muito maior do que aquele que eu estava à espera. Eu gostava da imagem e fui percebendo que não era só eu a gostar. Afinal havia muito mais gente a gostar e se calhar a imagem era mesmo boa. Isto porque, às vezes, nós achamos que a foto é boa, mas foi porque fomos nós a tirá-la. Há uma cumplicidade entre o fotógrafo e a própria imagem que tira, até porque sabemos a história. E às vezes até há imagens que passam despercebidas às pessoas e nós achamos que ela tem uma carga informativa gigante, mas que não passa. Neste caso passou. A foto correu o mundo e serviu depois de barómetro para eu perceber que poderia ser uma boa imagem para ir a concurso.
NM: E como é que numa situação de incêndio e de caos se consegue pensar e fazer uma boa foto? Isto faz tudo parte da experiência também?
NAF: Faz. A fotografia também surge exatamente porque não estou numa altura muito confusa. Estava descontraído porque, por ser já uma hora tardia, já não tinha de enviar trabalho. Eu tinha decidido ficar mais algum tempo para perceber como se ia desenrolar o incêndio. O que saísse, saiu. Não vou dizer que tropecei naquela imagem e naquele momento. Eu estava num sítio onde qualquer pessoa podia estar e vi aquela criança dentro do carro com os pais. A criança não está a correr risco nenhum, mas eu percebi que podia dar um enquadramento interessante e passar uma mensagem. E assim foi.
NM: E ainda consegues que a criança olhe para ti.
NAF: Consegui porque tive algum tempo para tirar a fotografia. Como já é de noite, as máquinas já não focam tão bem, e eu estive ali se calhar um minuto ou dois para tirar umas 20 fotografias iguais. Queria ter a garantia que a fotografia estava focada e a criança olhou para mim.
NM: Também é preciso um bocado de sorte para tirar estas fotografia?
NAF: É, eu também acho que é preciso um bocado de sorte, mas a sorte procura-se e tem de haver persistência, mas depois quando se procura muito uma coisa, acabamos por encontrar. E, neste caso, não foi bem o tropeçar no momento, mas sim a minha insistência em ficar que me permitiu encontrar aquele casal com a criança.
NM: Como foi o processo de candidatura ao World Press Photo?
NAF: Normal. Eles têm um prazo, enviamos a fotografia e, quando a fotografia chega a uma certa fase, eles pedem os ficheiros originais para confirmar que a imagem não foi manipulada. Mas quando estamos nesta fase é porque a foto já chamou a atenção e então já ficamos mais empolgados. E depois há nomeação e o resultado. Neste caso foi 3º lugar, mas podia ter sido outra coisa qualquer.
NM: Qual é a importância de receber este prémio para um fotojornalista?
NAF: Eu não vejo como um prémio, vejo mais como uma compensação e uma forma de ganharmos mais algum alento para continuar a fazer o que gostamos. Óbvio que é extraordinário, não posso dizer que não, até porque o World Press Photo é enorme. Não sei se existe algum concurso com este destaque na área. E ficar na história do World Press Photo é fantástico.
NM: Foi a primeira vez que concorreste?
NAF: Não, já tinha concorrido com outras imagens. Não o faço todos os anos porque nem sempre tenho trabalho que justifique. Este ano até nem tinha muita coisa, mas fui com esta fotografia e correu muito bem.
NM: E de todas as fotos que enviaste para o concurso, achas que esta é a que merecia ser premiada?
NAF: É muito relativo porque o júri também é diferente todos os anos. E o júri também é humano e tem as suas visões. Se calhar houve anos em que achei que tinha imagens mais fortes, mas agora penso que não, porque foi esta a premiada. Portanto é tudo muito relativo.
NM: E para o ano até podemos ter aqui outra fotografia tua…
NAF: Não acredito muito, mas era bom! Mas acho que vais ser difícil…