Dezembro é aquele mês em que parece que o mundo vai acabar! Faz-se o balanço de tudo e de mais alguma coisa, renovam-se promessas e resoluções, come-se como se não houvesse amanhã, os jantares de natal surgem como piolhos hiperativos em cabeças de crianças e compra-se tudo o que aparece: o necessário, o supérfluo e aquilo que nem imaginávamos que existia.
As associações de solidariedade concentram ações em peditórios infindáveis e todos ficamos com aquela sensação de que, pelo menos em dezembro, devemos pensar mais nos outros.
Neste mês esquece-se tudo: as dietas, as limitações financeiras, as preocupações ambientais, a política, o futebol… Os dias vivem-se focados na noite de 24 para 25.
Crentes, não crentes, amigos dos crentes, conhecidos e simpatizantes vão na onda e festejam todos o aniversário de Jesus. Não se reflete muito sobre o assunto. Melhor ou pior todos sabem que, a 25 de dezembro, nasceu em Belém uma criança reconhecida por alguns como o Salvador do Mundo e por outros, apenas como um embuste.
Reza a história que Jesus era um homem humilde, amigo dos pobres e dos carenciados, um inconformado com o sofrimento humano, que se apresentava em trajes simples e com bom poder oratório. Na sua passagem pelo mundo deixou a grande mensagem universal e transversal a qualquer crença religiosa: Amai-vos uns aos outro como Eu vos amei!
Em 2019 a mensagem de Jesus já não é vivida! O seu povo é um consumidor compulsivo que aproveita a data festiva do seu aniversário para encher centros comerciais praticando o culto desenfreado do consumismo.
Ninguém está muito interessado em viver para além disto. Vive-se apenas com o foco na experiência, num imediatismo em que a verdade é ditada pelas redes sociais e muitas vezes subvertida pelas fake news.
O Jesus de 2019 transformou-se num ícone publicitário personificado num velhote a quem a publicidade designou chamar de pai natal, o presépio de São Francisco de Assis é hoje encarado como uma mera encenação teatral que impiedosamente assistimos em festas de natal das crianças.
Dia 24 é aquele dia cheio de tachos, panelas, cheiro a canela, e correrias.
As baterias dos telemóveis acusam o cansaço das sms e das mensagens enviadas e recebidas pelas redes sociais.
Aos poucos perdemos o velho hábito de visitar quem nos diz tanto, isto porque vivemos centrados no nosso umbigo, numa espécie de bolha egoísta que nos impede de ver, escutar e acarinhar pessoas que gostamos. Investimos em mensagens para quem não temos qualquer afinidade e não somos capazes de simplesmente telefonar aquele amigo ou familiar com quem já não falamos há anos.
A noite de 24 é única, uns estão reunidos com a família à volta de uma mesa para a ceia de natal, contando as horas e os minutos para o momento auge da noite, a entrega dos presentes, enquanto outros estão simplesmente a viver o vazio de mais uma noite fria de inverno.
O dia de Natal amanhece com os contentores de lixo a abarrotar de restos de comida, sacos de papel, plásticos, brinquedos novos e velhos. Os presentes, que no dia anterior pareciam mágicos e indispensáveis, já não passam de peças insignificantes e supérfluas. De repente sem darmos conta passou mais um Natal, mais uma noite, mais um dia, mais um ano, em que repetimos automaticamente hábitos sem reflectirmos minimamente a sua origem e a sua essência.
Jesus cresceu, viveu e morreu nu numa cruz, não fundou nenhuma seita nem religião e tal como Buda, Moisés e Maomé, viveu e sacrificou-se para explicar aos seus pares que o Amor Basta! Quem não percebe isto não percebe nada.
Feliz Natal!