Nos últimos dias tem-se adensado o debate sobre o futuro do Sistema Educativo no nosso país. A quarentena obrigatória a que estivemos sujeitos durante um largo período de tempo e o distanciamento social imposto pela pandemia COVID-19 impôs às Escolas a adaptação a novos métodos de ensino à distância, nomeadamente por vias digitais e telefónicas (sim, há alunos a ter aulas pelo telefone!).
Por um lado, salvo muito raras exceções, estas instituições não estavam preparadas para uma adaptação a estes meios de ensino à distância, quer pela incapacidade dos meios que disponibilizam aos professores e estudantes, quer pela oferta formativa que, em muitos casos, não dispensa a atividade presencial dos alunos. Por outro lado, é do conhecimento público que milhares de alunos não dispõem ainda de acesso à Internet, de equipamentos digitais próprios para acompanhar as aulas e aceder convenientemente às matérias lecionadas e não obtêm o acompanhamento desejado dos encarregados de educação (não esqueçamos que eles também trabalham).
A UNESCO estima que quase todos os países do mundo e cerca de 90% da população escolar mundial (início de abril) tenham sido afetados pela interrupção das atividades letivas presenciais, o que representa quase mil e seiscentos milhões de aprendentes.
Apesar do esforço de muitas escolas, professores e autarquias locais portuguesas para mitigar estes problemas causados pela pandemia, sabemos que no final deste ano letivo muitos alunos sairão prejudicados. A sua aprendizagem será, inevitavelmente, deficitária e desigual. As classificações atribuídas pelos docentes ficarão sujeitas a critérios mais frágeis e, por isso, serão sempre alvo de dúvidas e críticas – suspeições que não creio justificadas, pois acredito na idoneidade e retidão da generalidade dos professores. Contudo, estes são tempos excecionais, fomos todos surpreendidos por um novo coronavírus e as respostas que surgem devem sempre ser interpretadas à luz desta conjuntura.
Ora, se até agora discutimos o melhor modo de lidar com a pandemia, protegendo os nossos cidadãos e garantindo uma eficaz resposta do Serviço Nacional de Saúde, chegou o tempo de prepararmos o futuro, adaptando a nossa vida a esta “nova normalidade” que, spor agora, não tem prazo de validade.
Importa então perceber – e discutir – que Ensino queremos? Apostamos no “moderno” Ensino à distância ou regressamos ao “tradicional” Ensino presencial e físico?
É inegável que o ensino à distância e o recurso às novas tecnologias representam grandes vantagens no processo de formação dos cidadãos, ainda para mais no mundo global em que vivemos e nos exige, cada vez mais, um conhecimento profundo de outras realidades. Ele é também uma ótima ferramenta para colmatar as lacunas provocados por casos (como aquele que vivemos neste momento) onde nos seja temporariamente imposto o distanciamento interpessoal e representa um excelente aliado para encurtar distâncias e, consequentemente, aumentar o nosso tempo disponível.
O Ensino, de forma simples e objetiva, pode ser entendido como o sistema de transmissão de conhecimentos e competências – práticas ou teóricas – de uma pessoa para outra.
Mas esgota-se o Ensino neste conceito estrito?
Acredito que não. O Ensino tem um papel essencial na socialização do Homem, representando um fator de suma importância no crescimento e desenvolvimento dos jovens enquanto cidadãos integrantes de uma comunidade. Esse papel pertence à Escola – espaço físico que vai do recreio à sala de aula – e à comunidade escolar – todos os ativos que constituem esse espaço físico – que compõem um verdadeiro ecossistema.
Na realidade todos (professores, alunos, auxiliares e pais) têm saudade da Escola presencial. A Escola dos afetos e das corridas, a Escola que vive dos alunos e para os alunos, que conhece a realidade de cada um, que se adapta a cada um, procurando dar a melhor resposta, de forma a potenciar as capacidades de cada um e estimular o espírito crítico.
Quanto a mim, não tenho qualquer dúvida: o digital não é o fim, mas um meio a adotar pela Escola na sua missão de formação e capacitação dos cidadãos de amanhã. O Ensino precisa da Escola.
Post Scriptum. É com saudade e gratidão que escrevo estas linhas. Saudade dos meus tempos de Escola, das turmas por onde passei (de Pedras Rubras à Senhora da Hora), das amizades para a vida que lá fiz, dos derbys de futebol no intervalo e até do irritante toque da campainha que nos fazia sair disparados sala de aula fora. É também com a gratidão que na altura não lhes deixei que recordo os meus professores. Por nunca me terem coartado o pensamento e o espírito crítico, por me terem ajudado a construir a escola dos porquês – ainda hoje continuo a ter mais dúvidas que certezas – e, acima de tudo, por todos os ensinamentos curriculares e humanos.
Bruno Bessa,
Presidente da JSD Maia