Finalmente o fisco vai dar alguma coisa aos Portugueses! Vai dar carros todas as semanas, sim senhor, carros! Para entrar no sorteio só tem de pedir factura com o seu número de contribuinte. À primeira vista, parece uma medida certa já que tudo que se pareça com jogos de azar é bem visto pela maioria dos Portugueses, que preferem sempre a maneira mais fácil e menos trabalhosa para atingir os seus objectivos. É bastante simples pedir factura com o número de contribuinte e arrisca-se a ganhar um carro. Bastante bom na minha humilde opinião.
A minha surpresa surgiu quando por acaso lia alguns comentários numa publicação online que relatava o sorteio de carros para quem pede factura. Fiquei completamente boquiaberto com a quantidade de barbaridades que li. Não sei se criticavam tanto se cada factura viesse com uma área para raspar, ao género dos papeis da “Santa” Casa. Não resisti a transcrever dois desses comentários:
António José Gonçalves Afonso :
“Vigaristas, nunca se deve pedir factura porque é a economia paralela que sustenta o país pois governo não corta nas suas despesas.”
Carolina Valente :
“Coisas destas acontecem, nos chamados Países do terceiro mundo”
Ainda pensei que era brincadeira ou ironia. Foi tempo perdido. Estes Portugueses acreditam mesmo que Portugal não se comporta como um país de terceiro mundo e que a economia paralela sustenta o nosso país! Dizer que a economia paralela sustenta o país é como dizer que o crime cria postos de trabalho! Será que anda tudo maluco ou é só esquerda manipuladora a falar mais alto?
Tenho de recomendar um pouco de leitura: Banco Mundial, Julho de 2010, “Shadow Economies All over the World”. Nesta publicação vemos uma ligação clara entre um elevado nível de desenvolvimento e uma percentagem baixa da chamada economia paralela. Suíça (8,5%), Estados Unidos (8,6%), Luxemburgo (9,7%), Áustria (9,7%) são os 4 países do topo desta classificação, com a menor percentagem de economia paralela em relação ao seu PIB. Portugal surge, numa lista de 151 países, em 42º, com 23%, ligeiramente mais que as Maurícias e um nada menos que a Hungria. Recordando os PIGS, e para valores de 2007, ou seja, antes da crise económica, temos Portugal com 23%, Itália com 26,8%, Grécia com 26,5% e Espanha com 22,2%. No fim da classificação temos o Azerbaijão, Zimbabwe, Geórgia e Bolívia, sendo que os três últimos ultrapassam os 60%.
Posso ainda acrescentar a economia paralela em Portugal representava 25,49% do PIB em 2011 e 26,74% em 2012 segundo o Observatório de Economia e Gestão de Fraude, da Faculdade de Economia do Porto. Em número claro, o valor deste tipo de economia em Portugal era de 44 mil e 100 milhões de Euros em 2012, ou seja, € 44 100 000 000, mais de metade da ajuda externa da troika. Desde 1970, a economia paralela passou de 9,3% do PIB para 26,74% em 2012. A média dos países da OCDE, em 2010, era de 16,5%.
Sem economia paralela, em 2012 o PIB nacional teria ascendido a 209 mil milhões de euros. Aplicando a taxa de imposto de 20% às actividades que fogem aos impostos, o défice público não existiria, pelo contrário, o país iria apresentar superavit, ou seja lucro, no valor de 0,85% do PIB. Não era precisos mais cortes ! Pelo contrário, teríamos margem para investir no que é preciso e para aumentar salários.
Conclusão: Em Portugal falta educação, mas não é da que se aprende na escola (… mas essa também nunca faz mal a ninguém)