O país não está mais pobre, apenas deixou de gastar o dinheiro dos outros. Esta poderia ser uma boa forma de descrever o período de ajustamento que está prestes a terminar, mas na verdade, o país está efectivamente mais pobre e não só por ter deixado de gastar verbas que não lhe pertencem.
Quando se olha para a evolução dos salários mínimos na União Europeia durante o período da crise, percebe-se que Portugal se afastou da média europeia entre 2009 e 2014. Há cinco anos, o valor médio na UE era de 708 euros, em paridades de poder de compra. Em 2014, passou para os 823 euros, de acordo com dados do Eurostat. E se em 2009 o salário mínimo em Portugal correspondia a 83% da média, em 2014 passou para 80%. Estamos efectivamente mais pobres, comparativamente aos nossos parceiros da União. Estamos mais pobres relativamente a países como Letónia, Eslovénia, Polónia e Hungria, que melhoraram a sua posição neste período. Este empobrecimento relativamente ao resto da EU, que a generalidade dos Portugueses ignora mas que se reflecte nas suas carteiras, é se calhar o mais preocupante.
Hoje o PSD regista menos intenções de voto que o PS nas sondagens, quando todos os indicadores internos demonstram o sucesso das medidas do governo. Poder-se-ia dizer que os eleitores estão fartos destes protagonistas. Que o PS está dividido, que o PSD está igualmente a duas velocidades (partido vs governo) e que muita gente quer experimentar votar diferente. Na verdade, por melhores que sejam as notícias dos indicadores económicos e financeiros, por menores que sejam os juros, ou maiores as previsões, há uma verdade que não muda: os portugueses continuam a sofrer hoje, tanto como há um ano atrás. Mesmo tendo melhorado a situação económica e financeira do país, a vida dos seus habitantes está igual ou pior.
Na opinião da rua não se distingue aqueles que nos conduziram à bancarrota dos que nos estão a libertar dela. Não se distinguem aqueles que fizeram aeroportos em Beja dos que afirmaram a necessidade de acautelar a nossa situação financeira, e denunciaram a criação de despesas de forma irresponsável.
Este governo precisa urgentemente de uma injecção de adrenalina, precisa de subir nas intenções de voto, precisa de melhorar a aprovação, precisa, no fim de contas, de um aumento do salário mínimo. É algo imediato e que (quase) todos sentem. Não é com 15 euros/mês que se vai fomentar o consumo, mas a ideia de pela primeira vez em alguns anos, dispor de um rendimento maior, será sem dúvida um doce bem aceite pelos Portugueses
Falta aguardar pela (nova) posição do PS, que através do seu líder, em 2011 dizia que “Portugal não precisa de aderir a nenhum fundo de resgate” e hoje através de Seguro nos diz que “o Governo não passa de um vendedor de ilusões que visa criar a ideia nas pessoas que o nosso país está a sair da crise mas, infelizmente, não é assim”. Se não estamos a sair da crise, não podemos aumentar o salário mínimo, certo?
João Carlos Loureiro