A coadoção e a adopção por parte de casais homossexuais é incontornavelmente o assunto do momento, tendo levantado muita indignação no que toca à posição que a JSD tomou, ao promover o referendo e provocado uma onda de protesto significativa. Como militante da JSD tenho obviamente uma maneira própria de analisar e compreender o que esta proposta quer alcançar e qual o reflexo da mesma no seio da convicção politica da estrutura da qual tenho o orgulho e o privilégio de fazer parte. Ao mesmo tempo, tenho igualmente as minhas próprias convicções e os meus valores que não posso negar.
Quando o casamento de pessoas do mesmo sexo está legalizado, o aborto continua a ser livre e prestado gratuitamente pelo Serviço Nacional de Saúde à custa dos contribuintes e os símbolos religiosos desapareceram dos locais públicos, acredito que não faça qualquer sentido falar numa posição conservadora vincada da política portuguesa. Os valores herdados da família tradicional, da vida e da religião mudaram e essas conquistas não foram mais postas em causa.
Num conjunto de ideias e valores centrados nas liberdades individuais, não cabe uma tão grave limitação dessas mesmas liberdades e direitos associados como a que pode continuar a acontecer. Não nos compete a nós decidir o destino destes outros que agora queremos julgar. A nós, como única juventude partidária de referência, cabe-nos a tarefa de defender as minorias neste assunto de consciência, sem o sujeitar ao arbítrio do povo e ao seu absolutismo.
As leis que transcendem a nossa existência estão e estarão sempre à frente da sociedade onde são produzidas e Portugal, tendo sido a primeira potência colonial a abolir a escravatura, sabe bem o que isso significa. Foi, e é, acima de tudo orgulho e altruísmo, mas igualmente um dever e justiça. Os exemplos multiplicam-se com o direito ao voto das mulheres, a igualdade racial, os divórcios e o casamento civil. Se todos tivessem sido referendados, ainda hoje vivíamos no século XVII.
A demagogia do alegado interesse da criança na matéria de coadoção é um exemplo gritante que varre o espectro político da direita à esquerda, pois ninguém o consegue materializar e este será sempre um produto da sociedade actual e da sociedade futura. Há crianças já parte indissociável de várias famílias sem segurança jurídica e protecção legal. Onde está o interesse destas crianças?
É inegável que a adopção em Portugal não é um processo funcional ou até rápido, mas isso não pode nem deve negar ou impedir que se façam avanços em campos bastante próximos, pois o mesmo não significa que não se altere de seguida o que está errado actualmente. Igualmente, não significa que os processos de adopção de casais heterossexuais irão parar para só poderem adoptar os casais homossexuais. É necessária reflexão, e essa reflexão não será fruto de inercia ou de braços cruzados.
A JSD é uma juventude partidária de grandes causas, que lutou pela defesa do associativismo e pelo fim do serviço militar obrigatório. É uma juventude que nos últimos anos tem defendido não só os jovens, mas também os restantes portugueses, em questões fundamentais como a igualdade de oportunidades e de sacrifícios e que tem lutado pela solidariedade intergeracional como forma de proteger todas as gerações, principalmente as futuras. É uma juventude partidária que tem sabido estar ao lado da juventude portuguesa nesta altura de sacrifícios e de emigração.
Independentemente do desenrolar do processo, não se pode confundir um referendo com a posição de toda uma juventude. A JSD como eu a vejo, não é nem será, um protectorado do liberalismo económico ou do conservadorismo familiar. É uma juventude de pluralidade e de debate. É uma juventude que defende as minorias e os jovens, com toda a sua irreverencia e abertura. É uma juventude que tem alcançado e lutado por tanto e é pena que só este tão pouco tenha tido destaque.
Fica agora a esperança para que dentro de algumas décadas não reste senão o sucesso das decisões de hoje e nunca a amargura de não ter feito mais.
João Carlos Loureiro
Militante da Juventude Social Democrata