Os EUA conseguiram escutar as conversas do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, com outros funcionários da ONU, segundo avança o The Washington Post.
O governo norte-americano reuniu informações sobre conversas de António Guterres com altos funcionários da ONU e líderes mundiais. Entre vários temas, foi revelado o facto de lhe ter sido negada uma visita a uma região devastada pela guerra na Etiópia e as frustrações em relação ao Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, salienta o jornal.
Os documentos fazem parte de uma lista de relatórios de segurança nacional, divulgados na plataforma online Discord por um membro da Guarda Nacional Aérea de Massachusetts. Os relatórios contém desde lacunas das defesas aéreas ucranianas até à forma de como os Estados Unidos da América conseguem espiar os seus aliados e parceiros, precisa o mesmo órgão.
Os documentos de Guterres, que ao que tudo indica misturam citações diretas do secretário-geral e dos seus assistentes com análises de funcionários dos serviços secretos, sublinham alguns dos esforços diplomáticos recentes do secretário-geral.
Segundo informa o The Washington Post, num relatório datado de 17 de Fevereiro, Guterres queria confrontar o representante etíope da ONU Taye Atske Selassie Amde, depois do ministro dos negócios estrangeiros do país, Demeke Mekonnen, alegadamente ter rejeitado a presença do secretário-geral na região de Tigray para apoiar o processo de paz no país etíope.
Dois dias depois, a 19 de fevereiro, António Guterres disse a um funcionário da ONU que, no decorrer de uma cimeira da União Africana na capital etíope, Addis Ababa, o primeiro-ministro Abiy Ahmed “pediu-lhe desculpa por negar a visita planeada de Guterres à região do Tigray”, escreve o The Washington Post.
Depois de estar em África, Guterres viajou para Nova Iorque, para a Suíça, Qatar e Iraque no início de março. No decorrer dessas viagens, outro documento divulgado salienta que o secretário-geral da ONU não estava muito contente com a possibilidade de viajar para Kiev dias mais tarde, numa altura em que o governo ucraniano demonstrou algum interesse em António Guterres encontrar-se pessoalmente com Zelensky. O relatório não identifica a real razão da insatisfação.
Na sequência do encontro com o chefe de estado ucraniano e da conferência conjunta, um documento, de 8 de março, revela que o secretário-geral relatou ao seu porta-voz, Stéphane Dujarric, que estava “realmente chateado” com uma cerimónia pública surpresa para comemorar o Dia Internacional da Mulher durante a visita. Guterres terá dito a Dujarric que foi à Ucrânia para ajudar, mas os ucranianos “fazem tudo para nos liquidar”, cita o jornal norte-americano.
O The Washington Post destaca ainda que o governo dos EUA ainda não respondeu sobre este caso de fugas. Por sua vez, a Agência Nacional de Segurança encaminhou as questões para o Departamento de Justiça, que se recusou a comentar. O Departamento de Defesa também não respondeu a nenhum pedido de comentários.
Tanto o ministério dos negócios estrangeiros etíope como o ucraniano também ainda não teceram qualquer tipo de comentários sobre estes acontecimentos.
Pelo menos algumas das conversas de Guterres, indicam os documentos, foram recolhidas sob a lei FISA. De acordo com a Seção 702 da lei, existe a autorização da espionagem sem mandado de alvos estrangeiros, dependendo da técnica usada, da nacionalidade e da localização do alvo.