A empresa defende que cabe aos professores decidir se estudam ou não os referidos versos em aula.
Após ser notícia a omissão de partes do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, num manual de língua portuguesa do 12.º ano, a Porto Editora veio ontem esclarecer que não existiu “qualquer censura”, mas sim de “uma preocupação didático-pedagógica”, para com esses versos que contem “linguagem explícita e que se relacionam com a prática de pedofilia”.
A editora afirmou, em comunicado, que os versos em causa do manual intitulado “Encontros” estão apenas disponíveis na versão do professor, sendo que este, “em função das características específicas de cada turma”, pode decidir se os aborda em contexto de aula ou não.
Nos versos em causa lê-se: “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas” e “E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! — / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”.
Ao jornal Público, a presidente da Associação Nacional de Professores de Português, Rosário Andorinha, mostrou-se contra o corte dos três versos da Ode Triunfal de Álvaro de Campos no manual da Porto Editora. “Não consigo aceitar que um poema seja cortado, porque ao fazê-lo já não estamos perante o mesmo texto, nem a respeitar o seu autor”, afirmou a professora.
“Estamos a falar de alunos do 12.º ano, que têm entre 17 e 18 anos. Não faz qualquer sentido estar a escamotear versos só porque alegadamente têm uma linguagem menos própria”, sublinhou. Rosário Andorinha afirma que a solução encontrada pela Porto Editora desvirtua o estudo de Álvaro de Campos, uma vez que este utiliza, precisamente, “uma linguagem que pretende agredir, chocar”.