O dia 2 de março de 2022 marca os dois anos em que foram confirmados os primeiros casos de contágio pelo novo coronavírus em Portugal. O primeiro doente infetado foi um médico de 60 anos que esteve no norte de Itália. O outro caso que testou positivo para a Covid-19, foi um homem de 33 anos que esteve em Espanha em trabalho.
Gustavo Tato Borges, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, em declarações à Lusa, reconhece que “Portugal já não tem paciência para a obrigatoriedade do uso de máscara, para ficar em isolamento e para perceber que, de facto, o caminho é manter um pouco mais estas medidas para podermos controlar de forma mais assertiva esta doença. Temos vontade de largar tudo e partir para uma normalidade que, infelizmente, não vai voltar a existir“.
Os portugueses vivem há dois anos com um manual de instruções sobre o que é permitido e proibido, restrições que a saúde pública considera que foram sempre adequadas mas que nem sempre foram as mais coerentes nem baseadas em evidências científicas. Por exemplo, o período do Natal de 2020, que precedeu o pico de mortalidade pela covid-19, “poderia ter sido mais restritivo”, apontou Tato Borges. “Fez impressão ver a facilidade com que as pessoas acolheram medidas que não vinham de ciência nenhuma, mas de reuniões no Infarmed com três ou quatro especialistas escolhidos a dedo e de conselhos de ministros em que as pessoas diziam o que [o primeiro-ministro, António Costa] achava o mais conveniente ser dito”, concluiu o Presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS), apesar de cansado fisicamente e psicologicamente conseguiu voltar, em 2021, aos níveis pré-pandemia, com mais de 613 mil cirurgias e 12,4 milhões de consultas hospitalares, mas faltou recuperar o que a pandemia de Covid-19 suspendeu em 2020. Os dados disponíveis no portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) colocam o ano de 2021 ao mesmo nível de 2019, tempos pré-pandemia, mas mostram que não se compensou as mais de um milhão de consultas hospitalares a menos imposta pela suspensão da atividade não urgente.
A fase crítica da pandemia parece já ter passado, mas a normalidade vai implicar o convívio com a Covid-19 como uma doença sazonal, com a esperança de ser menos intensa e que possa recair novamente nos avanços da ciência. Em simultâneo surgirão, para além da vacina, medicamentos que serão soluções curativas, uma vez que, “atacando” o vírus em pontos diferentes, tornarão a resistência viral cada vez mais difícil.