A partir de 2023, o programa de rastreios oncológicos será estendido ao cancro da próstata, de acordo com a decisão do Conselho da União Europeia. Essa decisão foi tomada com o objetivo de promover a orientação e a colaboração em toda a União para a detecção precoce desse tipo de doença. Inicialmente, o projeto será realizado em fase piloto, e será direcionado a homens com mais de 50 ou 55 anos de idade.
O objetivo do rastreio do cancro da próstata é identificar o tumor no início da sua evolução, quando ainda se encontra localizado na próstata e, portanto, mais facilmente tratável. A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga, que produz parte do sémen. O cancro da próstata é o segundo tipo de cancro mais comum nos homens em Portugal, só ultrapassado pelo cancro de pele não melanoma.
Ainda não está definida a periodicidade com que os rastreios serão realizados, mas serão avaliados os resultados dos projetos-piloto para estabelecer uma rotina de despiste. É importante lembrar que o rastreio do cancro da próstata não substitui o acompanhamento médico regular e o autoexame. É fundamental que cada indivíduo conheça os seus fatores de risco e siga as recomendações médicas para prevenir o desenvolvimento deste tipo de cancro.
Com uma rotina de prevenção e diagnóstico precoce do cancro da próstata, as mortes poderiam ser significativamente reduzidas. O urologista José Sanches Magalhães, do Instituto de Terapia Focal da Próstata, explica que “o rastreio regular dos homens pode efetivamente reduzir o risco de morte por cancro da próstata metastático mais tarde. Deve ser proposta a hipótese de deteção precoce do cancro da próstata a todos os homens entre os 40 e os 50 anos, especialmente aqueles com familiares diretos com cancro da próstata”.
Existem diversos fatores de risco, sendo a idade o mais relevante. Ainda que a doença se possa manifestar em jovens, o risco aumenta exponencialmente em função da idade do homem. A hereditariedade e o histórico familiar também são cada vez mais pertinentes. É expectável que pessoas com pais ou irmãos afetados pela doença, acabem igualmente por desenvolver cancro da próstata, mais cedo do que a população geral. Existem determinadas mutações genéticas que, se presentes na família, devem motivar vigilância mais atenta. A etnia é um outro fator relevante, sendo a ocorrência do cancro da próstata mais frequente em homens afrodescendentes, apesar das causas dessa incidência não serem ainda totalmente evidentes. Por fim, mas menos importantes, elementos quotidianos como os hábitos alimentares, o consumo de álcool, a exposição ocupacional, o comportamento sexual, a obesidade e a inflamação crónica.
Cerca de 90% de todos os cancros deste tipo são detetados quando o tumor está localizado na próstata ou em torno dela, pelo que as taxas de sucesso do tratamento são elevadas, comparativamente com outros tipos de doença oncológica. Apesar de a maioria destes tipos de cancro ser de evolução lenta ou surgir, muitas vezes, em idade bastante avançada, existem casos em que a doença se manifesta de forma mais agressiva. No entanto, a deteção do cancro da próstata numa fase precoce permite o tratamento, com uma taxa de cura que pode ultrapassar os 95%.
O diagnóstico precoce é essencial e tem contribuído para reduzir significativamente a taxa de mortalidade. “Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito em fases em que se consegue tratar e erradicar a doença”, afirma Sanches Magalhães. “Até em casos que progridem e ultrapassam a fase localizada, ou que são diagnosticados em fases avançadas, as possibilidades de tratamento alteraram-se de forma muito significativa em poucos anos. Não obstante, todos os anos falecem cerca de 2000 doentes, só em Portugal”, esclarece. “É um número significativo, dada a elevada frequência da doença, que corresponde a mais de 10% das mortes por doença oncológica”.