O conceito de caça à multa é miserável mas fica ainda pior quando o trabalho é mal feito. Talvez faça falta criar uma entidade para multar quem multa mal.
A multa de estacionamento deve ser justa e equitativa. Não deve discriminar. A multa quando nasce, é para todos. Pelo menos no plano teórico, já que é possível assegurar estacionamento para alguns contribuintes para quem, entenda-se, em vez da multa, nasce o sol.
Estranha-se assim que, naquela que é a rua com maior tráfego no centro da Cidade da Maia, a aplicação da multa seja tão assimétrica. Ao contrário da Travessa Padre António, onde a multa é a eito, na Avenida Visconde Barreiros o estacionamento em segunda fila compensa.
É um fenómeno admirável que nos deve a todos fazer pensar. A organização que dirijo bem que poderia ser acionista da EMEM, face às centenas de euros com que contribui mensalmente para a mesma. Sendo eu um cliente frequente, muito estranho a incapacidade de multar outros clientes frequentes, constantemente estacionados em segunda fila.
Não sendo conhecido o conceito de usufruto do estacionamento na via pública, é natural a estupefação com a existência de diferentes classes sociais no privilégio de parar a viatura.
Os profissionais da multa, pertencentes a uma espécie nativa de Lisboa e em crescimento exponencial em tudo o que é cidade, cumprem a sua missão com bastante eficiência. Prova disto é que não consta que as organizações que usufruem dos seus serviços tenham dificuldades financeiras. Todavia aconselha-se a aplicação da lei de igual forma para todos os cidadãos.
Não é sequer justo que alguns estabelecimentos tenham a vantagem competitiva de receber clientes devido a uma espécie de livre trânsito no estacionamento em segunda fila.
O fenómeno da mobilidade urbana é complexo. É difícil domar os condutores e a sua incontrolável vontade de utilizarem automóveis. A ditadura do veículo de quatro rodas é implacável.
A aplicação implacável de multas pode ter algum efeito desencorajador no uso do automóvel, mas é preciso criatividade e arrojo para melhorar a mobilidade urbana, conceito que deveria ser tido como um direito. Na defesa do cidadão, é necessário investir num sistema de transportes públicos adequado às necessidades, principalmente dos mais desprotegidos.
Nem tudo é mau. Bem a Maia ao investir em modos de mobilidade suave, na criação de ciclovias, ecocaminhos, de lugares de estacionamento para bicicletas e, finalmente, na criação de postos de carregamento elétrico. Apesar da estranheza que alguns demonstram, a ciclovia na Avenida D. Manuel II é uma obra com um desígnio maior, que se deseja ser âncora para infraestruturas similares.
Se vai para o centro da cidade, use o metro, apesar de ser difícil para quem vem da Trofa, ou use outros transportes públicos. Se porventura se deslocar de locais onde a rede de transportes não lhe consegue prestar o serviço que merece, então boa sorte, porque quem multa assim, não é gago.
Aldo Maia, Diretor.
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