Caros leitores
O meu semanal estado de espírito que, vos confesso, devido a vários factores, não foi o melhor na semana que hoje termina, conduziu-me ao tema de hoje. Os bons e os maus.
Existem um ditado latino que diz “ bonis nocet, qui malis parcit”.
Este mesmo ditado é repetido em várias línguas. Em Inglês “ Who pardons the bad, injuries the good”; em Italiano “ Chi perdona ai cattivi, nuoce ai buoni”; em Francês “ Qui épagne le vicefait tort à la vertu”; em Espanhol “ ofensa hace a los buenos el que a los maios perdona”; no nosso bom Português “ quem poupa os maus, ofende os bons”.
A verdade está inserida neste velho ditado! Nada é mais desmotivador para um ser humano do que a injustiça de ver pessoas erradas a serem tratadas da mesma forma que as que estão corretas. Nada é mais desmotivador do que ver pessoas desonestas a serem tratadas da mesma forma que as honestas. Nada é mais desmotivador do que a injustiça e a impunidade. Quando somos complacentes com os maus, estamos, na verdade, a ofender os bons.
Iniciemos pelas empresas/organizações. Quando protegemos os colaboradores que não são comprometidos com o seu trabalho, que não são pontuais nem assíduos, que não atendem bem os clientes, que não participam na nossa visão e missão, estamos, realmente, a punir os bons, os comprometidos, os competentes, os que atendem bem, os que compartilham da nossa visão e, inclusive, das nossas crenças.
Quando um chefe verifica que um trabalho está medíocre ou, mal feito, e não chama à razão o subordinado, está, na verdade, a ofender quem faz “bem feito” e luta pelo aperfeiçoamento.
Da mesma forma, ofende os bons clientes, a empresa/organização que não distingue os bons dos maus e trata os maus da mesma forma que os bons. Clientes que não pagam as facturas vencidas, que não seguem as instruções de uso dos produtos que comercializamos, que não atendem os nossos telefonemas e solicitações, não podem, nem devem, ser tratados da mesma forma que os clientes que são realmente comprometidos com o sucesso da nossa empresa.
Passamos ao ensino. Que se poderá dizer do professor que protege o aluno faltoso, que não cumpre horários e não participa nos trabalhos? Um bom professor? Tecnicamente até poderá ser, mas cumpre uma grande injustiça perante os alunos que diariamente participam nas tarefas propostas. E se esse mesmo professor resolver “facilitar a vida” aos alunos que vão a exame? Os tais que não estudaram durante o semestre, que não se aplicaram passeando os livros pela escola … O professor está a proteger os maus em detrimento dos bons.
Terminamos nos compromissos. Quando se estipula algo em que todos os envolvidos assumem as suas responsabilidades e, no final, existe um ou outro elemento que não cumpre inventando uma panóplia de desculpas, o que fazer? Apoiar os não cumpridores aceitando as suas desculpas? E que palavras poderemos ter para quem cumpriu?
Um dos grandes problemas é a impunidade. E quem faz o certo sente-se injuriado ao ver tanta impunidade e, muitas vezes, a injustiça cria a desmotivação nos cumpridores, uma vez que, o “prémio” é o mesmo!
Assim, os que pagam todos os impostos são “gozados” pelos que não pagam, na certeza que um dia aparece uma “amnistia fiscal”. Os que chegam aos compromissos no horário estipulado sentem-se “esquisitos” ao verificar que o horário respeitado é dos atrasados tipo “ … vamos demorar mais ½ hora para dar início à sessão pois muitos convidados ainda não chegaram …”, isto sem falar noutros casos que os cumpridores conhecem.
Todos devemos empenhar-nos em não cometer esta injustiça!!
Lembre-se caro leitor: Quem poupa os maus, ofende os bons.
Desejo a todos uma próxima semana justa e positiva.
Francisco Martins da Silva
(Engenheiro e Professor do Ensino Superior)