A economia que mata – como refere o bispo de Roma -, tem projetos de conservar a mão de obra necessária para obter os seus lucros chorudos. Quando precisa aqui d`Rei que é necessário injetar dinheiro. Essa economia, porém, tem uma esperteza determinada. Veja-se, por exemplo, a economia circular ou a economia verde, tudo para defender os seus padrões mantendo a mesma atitude: mais dinheiro, para os que mais têm, menos dinheiro para os que menos possuem. E vão inventando por aí fora outros tipos de economia, baseadas no lucro, como a economia azul (diferente da verde dado possuir uma componente cultural), a do eco socialismo e até para a economia social ou de comunhão, que se traduz num deixar alguma economia diferente ser forjada, para a economia que mata poder sobreviver. Não estou a escrever que esses passos não sejam conquistas de quem mais trabalha, mas, de facto, a que mata continua a matar.
Vem isto a propósito da “Responsabilidade Social” das empresas e que é, normalmente, relacionada com “filantropia” ou, para mim, promoção social dos empreendedores, à custa do trabalho de outros. Existem mesmo normas internacionais e nacionais que discriminam as bases que as organizações devem seguir para a “Responsabilidade Social”, dita Corporativa. Tudo em nome do bem-estar dos trabalhadores. Até existem normas sobre “Empresas familiarmente responsáveis”. Todas estas normas são certificáveis por terceiras entidades independentes. Nada tendo contra os normativos e defendendo mesmo a sua implementação, reconheço, porém, que são passos dados por “economias que matam”, para se manterem em funcionamento. Aliás, fui auditor das mesmas e cursei matérias a elas referentes.
A primeira norma a ser definida veio dos Estados Unidos da América, da Social Accountability International, a chamada SA 8000, que no seu corpo quase nada diz, aplicava-se mais a países que possuem descriminações de crianças e de trabalho forçado. Como nos EUA a norma não se “vendia” exportaram-na para a Europa e outros países, e por aí foi ficando. Uma outra norma internacional, de 2010, seria traduzida para o português sob a designação NP ISO 26000, que são linhas de orientação genéricas de responsabilidade social corporativa. A partir desta norma apareceriam duas normas portuguesas, baseadas nestas linhas gerais, e que constituem, de facto, matéria que a ser incorporada nas organizações daria um rosto mais humano à “economia que mata”. São elas a NP 4469-1, como linhas de orientação globais e a NP 4469-2, com requisitos auditáveis e certificáveis. São estas normas matéria fundamental para o caminho que estará longe de atingir os princípios de uma economia justa e de partilha, mas são passos a dar, importantes.
De salientar que as normas portuguesas e a ISO 26000, falam sempre nas “partes interessadas”, e definem-nas, como sendo os trabalhadores, os acionistas, os clientes, os fornecedores, a comunidade, a entidades oficiais, os sindicatos e uma concorrência sã. Isto define que uma organização, empresa ou não, em si, não constitui objetivo, se não tiver um conjunto de partes que façam o caminho da interação como um todo, em favor de todos. As linhas de orientação ainda definem os direitos de todas as partes à economia, ao ambiente saudável, à coesão social e à cultura. Só numa pequena linha é referido o “mecenato/filantropia”. E não será, por acaso, que isso se acha descrito.
Por exemplo uma empresa que não paga o justo salário aos trabalhadores e por eles não distribui os lucros empresariais, mas ao mesmo tempo oferece uma ambulância aos bombeiros locais, não está a ser responsável socialmente, mas a promover socialmente os seus donos como benfeitores, a quem o povo deve o agradecimento, nem é filantropia, porque não cumprindo com uma das suas partes interessadas, os trabalhadores, parece contribuir para a sociedade. Seria mais saliente pagar os devidos salários aos trabalhadores, e serem eles a contribuírem, porque podiam, para a ambulância.
Outro exemplo: uma empresa de recolha e tratamento de resíduos que obtém lucros, porque os munícipes pagam, não está a ser responsável para com as partes interessadas, quando, em vez de diminuir os custos da recolha e tratamento de resíduos, e assim diminuir impostos, coloca os seus “lucros”, à revelia dos seus maiores “acionistas” os munícipes, para apoio ao ambiente.
Estes dois exemplos são paradigmáticos da soberba de uma “economia que mata” e exerce a “caridade” a filantropia e o mecenato, à custa de outros, obtendo dividendos pessoais.
Aqui fica esta reflexão sobre “Responsabilidade Social” e “Filantropia” e promoções pessoais em nome dos “benfeitores” da sociedade.
Joaquim Armindo