Foram assinalados nesta semana dois dias de grande importância no domínio da consciencialização social e, mesmo, na chamada de atenção das pessoas para o mundo que as rodeia: o dia da pessoa com deficiência e o dia da pessoa com esclerose múltipla.
Efectivamente tratam-se de duas datas que não deviam, pela sua pertinência, ser assinaladas para lembrar-nos das necessidades que essas pessoas têm diferentes das nossas, mas antes para festejar a sua integração completa na sociedade assim como a sua mais valia pessoal e profissional.
Entre muitas verdade, algumas falsas verdades, e alguns interesses omissos que fui ouvindo nos órgãos de comunicação social dos intervenientes e responsáveis por algumas das entidades que coordenam esses movimentos, fica uma grande verdade: temos de lutar para que quer ideologicamente, quer de forma pragmática e objectiva tenhamos a aproximação a uma sociedade humanista que garanta à partida igualdade de oportunidades para todos, independentemente do seu estádio basal.
Isto, porque para além de eticamente reprovável, em última instância o valor de cada um é dado em função da tarefa que executa, a flexibilidade que tem de resolver problemas dentro do seu âmbito profissional e a sua dedicação e por inerência competência no que concerne à tarefa que é suposto realizar.
Claro está que todos devem ter acesso aos melhores tratamentos, às melhores terapêuticas disponíveis, ao estado da arte disponivel. Mas pergunto eu ao leitor, embora que de forma retórica: será admissível a um fumador, que não abdique do seu vício dar o melhor tratamento disponível, comprometendo outros doentes que estarão na disposição de mudar a sua vida? Pessoalmente, não tenho uma resposta objectiva, daí ter ousado introduzir a retórica nesta pequena reflexão, mas quando todos, querem tudo, mas o que há é nada ou muito pouco para distribuir, temos de tentar, para além de recorrer às nossas capacidades empáticas, recorrer ao nosso altruísmo, aos nossos princípios éticos e mesmo à nossa experiência pessoal.
Uma coisa é certa, na saúde, como em tantas coisas na nossa vida, a nossa maleita será sempre superior à do vizinho, turvando muitas vezes as opiniões que temos quando tentamos generalizar as medidas.
No meio de toda esta retórica atrevo-me a terminar com pragmatismo. É dado objectivo que as autarquias têm tido um papel fundamental na melhoria das oportunidades que dá às pessoas com algum tipo de deficiência e mesmo na empregabilidade de algumas delas nos seus quadros. Continua por isso, com o orgulho que tal proporciona, mais uma vez à frente do seu tempo.
Por: Ricardo Filipe Oliveira
Médico
Mestre Eng. Biomédica (FEUP)
Lic. Neurofisiologia (UP)
Não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.