Publicado em setembro do corrente ano, chegou-me, agora, à caixa do correio a revista “terramaia#4”, publicação da Câmara Municipal da Maia, com artigos de grande qualidade, exceto a primeira página de texto que bem podia não existir, dado que no seu articulado só vem denegrir a própria revista. Mas deixemos os circunstancialismos de lado, porque só é escrito por circunstância e vamos ao restante conteúdo, ou melhor, a alguns pontos que me parecem ser mencionáveis por grande clareza. Um dos artigos com mais significado sob o título “Uma nova cultura territorial”, a autora Maria da Conceição Melo escreve, e com muita razão!,: “Para quem planeia ou projeta se faça ouvir, tem de usar uma linguagem e metodologias que facilitem e permitam a comunicação. A classe técnica tem que deixar de usar a linguagem encriptada e específica que a torna inacessível ao comum dos cidadãos. A comunidade científica tem que se aproximar dos técnicos que estão no terreno, abrir o discurso e aceitar o desconcerto do mundo real.” A autora possui qualidade e capacidade para nos deslumbrar com este certeiro parágrafo, e que vai direitinho para a redação da própria “terramaia#4”, cuja escrita não é entendível para um público comum, apesar de continuar a pensar na qualidade que a revista apresenta. A “linguagem encriptada” usada nos artigos que vamos lendo são perfeitamente herméticos, para a grande maioria dos cidadãos e cidadãs que residem ou trabalham na Maia.
O artigo que venho a citar logo no seu inicio faz uma correta avaliação sobre a “participação pública”, e, muito bem, coloca a questão da definição do “crescer” e “desenvolver” cujos conceitos estão colocados de forma soberba, até porque, diz a autora “Crescer simplesmente, sem cuidar de dar conteúdo qualitativo ao crescimento, é criar um monstro que exige sempre mais para se alimentar e obriga a mais crescimento, porque o monstro é insaciável”, é este um “paradigma endeusado” a contrapor ao conceito de “desenvolvimento” que se tem um significado no seu interior de “crescimento” não é este, mas um desenvolvimento atingindo os milhares de pessoas na sua cultura, na sua coesão social, no ambiente e numa economia, não embaraçado com números produzindo crescimento financeiro ou não, mas, certamente, desenvolvimento é que é.
A autora refere-se ao desenvolvimento sustentável com claríssimas ideias de que tal implica, ao escrever que: “…o conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser divulgado e a fazer escola em Portugal, tornou-se evidente o risco e a necessidade de um compromisso global e universal, sem o qual não há salvação possível para a humanidade, porque também não o há para o planeta. À visão antropocêntrica do mundo terá que suceder uma outra em que o Homem e Natureza têm igual valor.” Ora, aqui está bem explicito o desenvolvimento sustentável, que tem a ver com a vivência dos seres bióticos e abióticos e, até, com os inertes, e não será um “crescimento” da moeda, mas um contribuir para as relações de todos os seres existentes.
E mais adiante reflete: “Contudo, nos últimos tempos, inspirada pela reflexão de alguns economistas e filósofos, aproximo-me mais da ideia de que desenvolver de um modo sustentável, é decrescer. Desenvolver não é sinónimo de crescimento em tamanho. Desenvolver é crescer em qualidade, e crescer em qualidade é decrescer em quantidade. Também não basta desacelerar, é necessário inverter o caminho, voltar para trás. Porque, por mais lentamente que se vá, se não invertermos o caminho, chegamos sempre ao final de percurso e o final do percurso é a destruição.”, o que aqui se refere é na realidade uma mudança de paradigma. Não parece, porém, que a cidade da Maia ou o seu concelho, estejam a pensar neste novo paradigma, antes pelo contrário, estimam bem o percurso que alguns percorrem há já quatro décadas, sem se ver qualquer inversão do caminho de antanho.
Gostaria para terminar de me referir ao excelente texto de Fátima Vieira, Vice-Reitora da Universidade do Porto, não só pela arquitetura do mesmo, mas pelas ideias aí mencionadas. Enfim, retirem a primeira página e vale a pena ler o restante.
Joaquim Armindo
Pós-Doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental