Todos temos vivido com dificuldades. Dificuldades fruto dos tempos em que os Portugueses resistem historicamente a mais um resgate do FMI para evitarem a bancarrota.
Claro que tivemos de apertar, apertar e voltar a apertar o cinto, mesmo em coisas que achávamos fundamentais como a saúde. De facto, um sociólogo de quem gosto particularmente, escreveu uma conclusão numa das suas obras que serve para a nossa vida: “As únicas coisas que nos fazem falta, são as coisas que outrora tivemos”!
Ora, nem mais… Na saúde iniciou-se no tempo de Correia de Campos, o encerramento múltiplas urgências polivalentes, vários serviços de especialidade hospitalar, condensamos profissionais. Do ponto de vista económico, admito que até poderá ter sido a decisão mais acertada, mas do ponto de vista da saúde… os resultados falam por si.
Não me canso de referir que a economia da saúde tem contingências muito particulares que devem ser respeitadas. Será que foram tidas em conta?
Pois bem, a verdade é que este problema das urgências é relativamente fácil de resolver, o problema é que exige uma reforma!!!
A meu ver a solução tem de passar por dotar os Cuidados de Saúde primários de urgência básica, com constante comunicação hospitalar. Aos hospitais apenas poderiam chegar casos devidamente referenciados pelos cuidados de saúde primários, ou triados pelas equipas do INEM.
Claro que isto implica, mais recursos humanos, claro que isto implica mais vontade politica, claro que isto implica mais recursos financeiros, e pergunto e então? Não será esta solução mais barata e eficiente do que a entrega deste serviço de capital importância a privados?
Muito se tem falado da má prática do presente Ministro da Saúde. Mas esquecemo-nos de algumas coisas positivas, como o preço dos medicamentos para os utentes, a estabilização das contas do ministério a pagamentos a fornecedores…
No meio da confusão claro que surgem discussões desviantes que não contribuem para a solução, mas servem para ocultar limitações e desviar as atenções.
Como bem disse o bastonário da ordem dos médicos, devemos ter muito cuidado sempre que apontamos um dedo, porque provavelmente teremos 3 dedos de volta apontados a nós.
O SNS é um dos símbolos mais carismáticos de Abril, e assim se manterá… resta-nos ajustar a capacidade às necessidades, e não é com médicos desempregados que se resolve o que quer que seja.
Por isso haja coragem política para ajustar números clausus nos cursos medicina (que só serão sentidos daqui a 10 anos), haja coragem para reconhecer o tremendo trabalho que a Medicina Geral e Familiar e os Cuidados de Saúde Primários em geral prestam, e haja vontade politica para finalmente começar a investir.
Claro que algumas vozes do Restelo, continuarão a fazer a única coisa que sabe… a criticar!!! Sendo que o dito popular nunca erra “em mesa que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”
Compete-nos fazer mais pão e ralhar menos!!!
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
1 comentário
Os problemas que têm surgido com a resposta a situações de doença aguda, mais ou menos graves, são realmente e apenas de origem económica. A degradação dos salários, a redução brutal do preço da hora dos profissionais de saúde, a constante e persistente ideia de que os funcionários públicos são uns malandros incompetentes e privilegiados, afasta-os da sua atividade pública. Por isso as centenas de reformas antecipadas ou as recusas de participação nas escalas de urgência após os 50 ou os 55 anos. Por isso ainda a pouca apetência dos mais jovens para estas atividades. Isso é que tem de mudar. Tudo o resto será mais do mesmo ou pior se realmente quiserem que a Saúde Familiar passe a participar nas urgências, um retrocesso de 20 anos!
Prossiga-se com a reforma dos CSP, permita-se que os profissionais, eles próprios, se envolvam na resposta à doença aguda como sabem fazer, com proximidade e responsabilidade, pague-se de forma justa o seu esforço e venha as gripes que vierem, os cidadãos estarão sempre protegidos.