Susana Costa tem 34 anos e é uma dos quinze atletas que vão representar Portugal no Campeonato do Mundo de Atletismo de 2019, no Qatar. Especialista no triplo-salto, Susana Costa já competiu em vários Campeonatos do Mundo e, inclusive, disputou os Jogos Olímpicos de 2016. Atualmente integra a Academia Fernanda Ribeiro e foi no Estádio Municipal da Maia que a encontramos em preparação para o mundial.
Notícias Maia (NM): Como é que começou esta carreira no atletismo?
Susana Costa (SC): Esta carreira começa com 9 anos de idade. Na altura fui viver para Setúbal e comecei a sério no Grupo Desportivo O Independente. Fiquei lá a treinar com o Sr. Vitor e, desde então, nunca mais parei. Passei por clubes como o Operário nos Açores, O Sporting, o Benfica e agora estou aqui, na Academia Fernanda Ribeiro.
NM: Antes de optares por ser atleta de alta competição, tinhas vontade em fazer outras coisas?
SC: Desde muito nova que faço atletismo e acho que nunca pensei que queria abandonar ou deixar o desporto. Tinha o sonho de ser contabilista, mas depois passou-me (risos).
NM: Quais são as maiores dificuldades em ser atleta de alta competição em Portugal?
SC: São a falta de condições, a falta de apoios e os poucos clubes para os muitos atletas. Alguns clubes acabam por desvalorizar os atletas porque sabem que podem tê-los “na mão”.
NM: Estás agora a treinar para o Campeonato do Mundo de Atletismo. Qual é a sensação de estar entre os quinze atletas a representar Portugal?
SC: É sempre gratificante porque estar num campeonato do mundo é muito difícil, principalmente devido às condições que temos. Eu vim há 1 ano e meio de Lisboa para cá treinar. Aqui, no norte, as condições ainda são mais difíceis, mas um atleta que gosta muito do que faz não baixa os braços. Eu, felizmente, encontrei aqui um pequeno grande grupo de pessoas que me tem ajudado. Como a Fernanda Ribeiro, a Academia e a minha treinadora Teresa Ribeiro. E tenho um conjunto de pessoas que trabalham comigo e me ajudam muito. E claro, o grande apoio é o da minha família. Hoje, se sou o que sou, agradeço muito a essas pessoas. A célebre frase de que a união faz a força, é mesmo o que sinto. Temos muito pouco mas uma ajuda aqui e ali, faz toda a diferença.
NM: Porque é que no Norte as condições são mais difíceis?
SC: Porque o investimento é sempre dirigido para onde há um maior número de atletas. Aqui, como há menos atletas, há menos investimento. Não devia ser assim, mas é o que acontece.
NM: E porque decides vir para o Norte?
SC: Primeiro, porque quis acabar um curso que eu ainda não tinha. Vim para fazer o curso de Treino Desportivo que é o que eu ambiciono fazer no futuro, que é ser treinadora. E, como tive de mudar de clube, não tinha nada que me prendesse ao atletismo em Lisboa.
NM: Quais são as perspetivas e objetivos para o Campeonato do Mundo?
SC: Este é o meu terceiro Campeonato do Mundo. Gostava muito de passar à final, que foi o que eu fiz há dois anos atrás. Este ano tive um pequeno percalço que me dificultou a planificação do treino porque tive uma lesão. Mas estou confiante que chego lá e que vou fazer algo que me deixe feliz e realizada.
NM: Como é que se faz a preparação a pensar numa grande competição? Há um treino mental envolvido?
SC: Há um grande treino metal. É físico e mental. Costumo dizer que se a mente não estiver bem, por mais que o físico esteja, é impossível as coisas funcionarem. O treino mental é muita força de vontade e muito sacrifício. O treino físico acaba por ser, todos os dias, por mais cansada que estejas, retornar sempre aqui à “segunda casa”, que é a pista.
NM: Existe alguma marca de sonho para ti?
SC: A marca de sonho são os 15 metros!
NM: Em que é que pensas quando estás a preparar-te para saltar e depois quando estás no ar?
SC: Eu não estou a pensar em nada (risos). Antes de começar a prova, concentro-me no que tenho que fazer, principalmente no salto, mas a partir do momento em que dou o primeiro passo da corrida e até chegar à areia, não estou a pensar em nada.
NM: Existe alguma rivalidade entre ti e a Patrícia Mamona?
SC: Sim, a competição é assim mesmo. Eu gosto de competir com a Patrícia e ainda bem que existe uma Patrícia e agora a Evelise Veiga. Eu sou do tipo de atleta que acha que quantas mais atletas de top estejam em competição, melhor. Porque nós vamos sempre evoluir com isso. Agora, no caso, eu sou a minha maior rival. Portanto, eu penso sempre que as coisas só dependem de mim. Principalmente se eu estiver bem.
NM: Quem é a Susana Costa além da atleta?
SC: A Susana é uma pessoa comum que gosta de ir ao cinema, de estar em casa a ouvir música, a ler, escrever. Gosto muito de escrever, tenho um pequeno dom para poemas.
NM: Para terminar, qual era o conselho que darias a um jovem atleta que esteja agora a começar?
SC: O atletismo é uma modalidade muito difícil e é preciso uma grande força de vontade. Muitas vezes, nós pensamos que não temos a capacidade de conseguir atingir os nossos objetivos. Independentemente daquilo que os outros dizem ou daquilo que possamos pensar, devemos acreditar e fazer acontecer os nossos sonhos.