1.- O estado de saúde, duma sociedade, verifica-se, quase sempre, pelos ditos e reditos que essa sociedade toma. Ela toma para si, uma “globalização” situada nos tempos andarilhos das culturas que se entende próprias, dum estaticismo balofo e concernente à inatividade e indiferença; estas entendidas como suportes ideológicos ao sumidouro do solipsismo. A “coletivação-centralista” ou o “solipsismo-individualista”, suportam em si caraterísticas intrínsecas a modelos económicos, que por si só não contemplam a vivência duma “economia dos afetos”, e, logo, propiciadoras de nefastas ruturas na sociedade, por via duma “familiarização” incestuosa, que não harmonia com as culturas significantes das vivências das pessoas, dos homens e das mulheres. Curiosamente, ou até mesmo não curiosamente, não existe criatividade com o fechamento das pessoas em oligarquias familiares; aliás estas oligarquias nefastas ao convívio, fora das ilhas remotas da solidariedade e subsidiariedade, traduzem-se em suicidárias comédias do próprio conceito, se existe conceito!, de família. A família é um grão, que se atira à terra e frutifica, mas pode tornar-se a manipulação do próprio ser humano, quando não entendível com o convívio e a fraternidade em liberdade; ela [a família] não poderá corresponder a um espartilho que nidifica as vidas, mas com a educação nela percebida, uma constante que abre portas ao mundo, ao policosmos. Ela será então frutificada por todos os exemplos das vidas sonoras e gratificantes, das ousadias e das clarividências encaradas.
2.- Deixa de existir sentido, e também direção, quando nos afastamos das primícias adjuvantes e vivenciadas de uma anti-coletivação ou de um anti-solipsismo, porque só a unidade entre os entes, produz a necessária multiplicidade consentida que leva a Criação ao Uno e ao Múltiplo. Entenda-se, porém, estas atitudes hostis a determinadas excrescências societárias, como movimentações a favor dessa unidade da liberdade única e inviolável adstrita a qualquer ser humano, na tese de que só a maravilhosa família humana, consegue direcionar à família enquanto núcleo molecular da sociedade. Não estamos aqui numa laude não-família ou não-liberdade de pessoa, mas numa vespertina aclaração de que existe impossibilidade de geração do ser humano restringindo a capacidade doadora dessas famílias a outras famílias, que constituem o trigo que alimenta as relações humanas. Só estas reunidas na espiritualidade humana, conseguem versar a holística emergente dos corpos que se doam à constituição das estradas emergentes ao sentido do bem-estar e do bem comum. Estaremos a ser enganados por foguetes repetitivos de folguedos emaranhados em teias de aranha, que nos impedem de ver e agir.
3.- Tudo isto a propósito de um modernismo, estranho à cultura dos povos e cilindrado pelas opões de decisões coletivistas, que não são mais que o solipsismo trabalhador requintado da destruição das relações culturais e espirituais. As frases são o que são, e possuem cargas não-afetivas ou afetivas, que as tornam semanticamente com andar de rostos “resmungonos” e paradigmas estereotipados, causadores de diatribes não-humanas. Apanhou-se a frase: “Tudo de bom, para ti”, quando queremos desejar a felicidade a alguém; só que esse alguém é relacional e, o “Tudo de bom”, constitui uma necessidade intrínseca de nos libertar do outrem e dos seus problemas. É como por aqui vou eu, e tu vais para onde quiseres, porque eu te desejo “Tudo de Bom”; esta libertinagem caraterística de sociedades podres, longe de comunhão de afetos, gera um estúpido buraco onde cada um reside, sem querer ver o outro.
4.- Quando desejamos “Tudo de Bom”, estamos a ensaiar uma arrazoada inclinação para o abandono do outro, o cerceamento das relações afetivas e economicamente válidas, no sentido da comunhão. Mas isso advém da cultura que sintetiza posturas e atitudes foragidas da união dos entes. Assim, em vez de forjar família, é uma desconfiança no outro, afastamento límpido da atitude relacional. É um “tu”, sem um “eu”, porque afasto o relacionamento. “Tudo de Bom, para ti”, estratifica a sociedade, porque não somos nós, mas um sujeito isolado, ou uma família dividida, que não pode constituir o avanço necessário e comunitário. Aliás a expressão é isso mesmo, não-comunitária e avessa a tudo o que for “bom”. Descansada a consciência individual, por momentos, sugamos e abjuramos, não pela “candura” com que dizemos “Tudo de Bom, para ti”, mas pela inercia que ela contém, sendo assim anti comunitário e não só não-comunitário. Não seria grave se isso não foram recuos em relação a alguém, se fossem só palavras, porque “essas leva-as o vento”, mas atitudes irrefletidas duma classe cuja cultura é a morte do outro.
Joaquim Armindo
Doutorando em Ecologia e Saúde Ambiental
Mestre em Gestão da Qualidade
Diácono da Diocese do Porto