Quarenta e oito anos volvidos desde Abril de 74, desde o culminar da luta contra a ditadura fascista, contra a guerra colonial, contra a PIDE e contra a repressão, o Partido Comunista Português caminha a passos largos para a sua extinção. O comunismo Português não está a caminho do fim por mão de uma qualquer proibição, nem por meio de dissimuladas campanhas anticomunistas, não se está a apagar porque um outro partido está a tomar o seu espaço na democracia nem muito menos porque os trabalhadores já triunfaram em todas as suas lutas. O PCP está a definhar porque o choque com a realidade, a realidade de quase meio século após o 25 de Abril, lhe retirou qualquer sentido, lucidez ou substância.
No entanto, não deveria ser novidade para ninguém o desfasamento deste partido e dos seus simpatizantes com a verdade, fruto da permanente romantização de um regime político que, no entendimento de muitos, europeus incluídos, está ao nível do nazismo. A história e o passado não são garantias de sobrevivência nem de aceitação. O PCP não será eterno.
Exemplos do declínio dos partidos não faltam. Veja-se a morte lenta do CDS, às mãos de Francisco Rodrigues dos Santos, confirmada nas urnas num resultado que só o próprio não antecipou, ou a irrelevância a que Rui Rio condenou o PSD, não perdendo uma oportunidade para estar errado, tal como quando afirmou recentemente que era “um tiro no pé” a recusa de Volodymyr Zelensky em receber o presidente alemão Walter Steinmeier. Ora até Donald Tusk, presidente do Partido Popular Europeu, apelou à Alemanha para um “apoio firme à Ucrânia, se cremos acreditar que tiraram conclusões da sua própria história”. É visível que os líderes Alemães, como o próprio Steinmeier ou mesmo Olaf Scholz, que valorizam mais o preço do gás do que os milhares de inocentes mortos numa guerra que pode alastrar, estão a sabotar o apoio Europeu aos Ucranianos, quer na forma de ajuda militar eficaz como na aplicação de sanções verdadeiramente duras à Rússia.
Estar do lado certo dos acontecimentos e da história pode parecer trivial, mas nem sempre é evidente para os seus intervenientes diretos. Veja-se o exemplo dos apoiantes da Alemanha Nazi ou da Rússia de Putin, com as suas paradas, marchas e máquinas de propaganda que pretendem justificar crimes de guerra e genocídio. Para quem está distante do conflito, não há, nem pode haver, justificação ou apoio ao expansionismo Russo, posto em prática apenas em prol de um regime cleptocrático que se quer perpetuar no saudosismo da União Soviética e dos grandes impérios.
E se o argumento da Ucrânia albergar movimentos neonazis, como muitas vezes se apelidam elementos do batalhão Azov, é motivo para uma guerra com incontável sofrimento humano e largos milhares de vítimas civis, o que se diria da mesma desnazificação aplicada em Portugal? Afinal de contas convivemos com o Chega e com elementos de extrema-direita, tais como Mário Machado e os sucedâneos do antigo Partido Nacional Renovador. Pela mesma linha de ideias, é motivo mais do que suficiente para arrasar as nossas cidades, as nossas escolas e os nossos hospitais, e para invadir as nossas casas.
O discurso de Volodymyr Zelensky no Parlamento Português é particularmente duro quando devidamente transposto, especialmente ao pedir a Portugal que “combata a propaganda Russa e faça chegar a verdade, tanto à América do Sul como a África”, numa clara alusão aos países de língua Portuguesa recetivos à influência de Putin, como é o caso do Brasil e de Angola. Mais ainda, exalta a que os Portugueses “não se traiam a si próprios nem traiam a Ucrânia” no caminho acelerado para a União Europeia. E é nesse apelo à verdade, da extremidade oriental da Europa para a extremidade ocidental da Europa, em comunhão de valores, de visão e de sociedade, que o PCP não têm lugar.
A 9 de maio de 1985, Ronald Reagan discursou na Assembleia da República, tendo os mais de 40 deputados do PCP abandonado a sala no início do discurso. Em 2022, e só a ocupar meia dúzia de cadeiras, um partido que novamente vira as costas ao defensor do mundo livre não pode ter lugar no continente da liberdade, dos direitos humanos, do estado de direito e da igualdade para todos, numa vida livre e sem nenhuma ditadura.
48 anos depois do 25 de Abril, o PCP apelidou Volodymyr Zelensky, o rosto de um país invadido por um cleptocrata imperialista e cuja população está a ser assassinada de “poder xenófobo e belicista”. O Partido Comunista é contra a liberdade e a autodeterminação de um povo que se parar de lutar deixa de existir. É contra a possibilidade dos Ucranianos se defenderem e de lutarem pelas suas casas e pelo seu sustento. Hoje, o PCP exalta um ditador autoritário antidemocrático que mandou matar, torturar e prender opositores políticos. Que jovem pode sentir Abril e beber destas palavras, para dar futuro ao comunismo em Portugal?
João Loureiro